Há uma nova estrela no topo da Sagrada Família — e os moradores de Barcelona não estão contentes

Sagrada Família/Twitter

Estrela no topo da Sagrada Família, em Barcelona

Moradores contestam a estética do acessório e estão indignados contra a instalação de escadas rolantes de acesso ao monumento, as quais iriam obrigar à destruição de centenas de habitação.

Em obras desde 1882, a Sagrada Família, basílica projetada por Antonu Gaudí, é uma das principais atrações turísticas de Barcelona, aparecendo, anualmente, no topo dos monumentos mais visitados do mundo. Os habitantes dos bairros à sua volta já se habituaram às gruas e aos trabalhos constantes, no entanto, há uma nova adição à obra que está a gerar descontentamento: uma estrela de três dimensões, com 7 metros de comprimento, que estará iluminada a partir de 8 de dezembro, data em que se assinala o Dia da Imaculada Conceição.

Um grupo de residentes dos bairros acusou mesmo a fundação responsável pela gestão das finanças de deslealdade na sua relação com os moradores e a implementação do adorno parece ter sido a gota de água. Salvador Barroso, um dos representantes da associação, descreveu a estrela mesmo como “esteticamente horrível“. Ainda assim, um dos receios da associação é que a fundação responsável pelo monumento avance, paralelamente, com a construção de uma escadaria de grande dimensões que levaria os visitantes da basílica até à entrada principal (ainda em construção). Isto obrigaria, avançam os residentes, à demolição de três quarteirões da cidade e ai desalojamento de cerca de mil famílias.

Xavir Martínez, diretor da fundação, já veio dizer que estão disponível para acolher sugestões sobre as escadas rolantes, mas remeteu para a câmara municipal qualquer decisão final sobre esta adição, a qual terá que ser incluída no planeamento urbano da cidade. No entanto, e tal como nota o The Guardian, com o aproximar das eleições locais, é pouco provável que as autoridades optem por aprovar um plano que inclua a demolição de centenas de casas.

Por outro lado, os críticos da opção arquitetónica afirmam que as escadas rolantes não faziam parte do plano original desenhado por Antoni Gaudi, tendo sido acrescentadas por um dos seus discípulos depois da morte inesperada do arquiteto catalão. Um grupo de arquitetos locais concorda com este ponto, defendido também pela Unesco — cujas distinções só cobrem as partes da basílica concluídas durante o período de vida de Gaudi — algo que, como seria de esperar, a fundação que representa a basílica contesta.

Na última conferência de imprensa realizada pela fundação em 2019, foram anunciados pela fundação lucros de 80 milhões e 100 milhões de euros em 2018 e 2019, respetivamente, dos quais 110 milhões teriam como destino as obras de construção do monumento. A restante fatia, foi anunciado, seria colocada de parte, caso se registasse uma queda abrupta do número de visitantes.

Por isso, foi com espanto que, no início da pandemia, os habitantes da cidade receberam a notícia de que as obras iriam ser suspensas, pelo menos até 2024, com exceção dos trabalhos que decorriam na Torre Maria. O verba “colocada de parte” revelar-se-ia essencial para pagar os salários da maioria dos trabalhadores que ficaram sem trabalho, mas também para manter a segurança do espaço. De acordo com os responsáveis, não é de esperar que as obras retomem enquanto o número de visitantes se mantenha em um quarto do registado em 2019.

Outra das críticas que a associação de moradores faz à fundação tem precisamente que ver com estes números, uma vez que, apontam não há forma de averiguar a sua veracidade.

À luz de um acordo feito entre o Estado espanhol e o Vaticano, a fundação não é obrigada a revelar anualmente os lucros conseguidos ou a pagar impostos, tem apenas de o fazer com as verbas resultantes da loja de recordações que existe adjacente à basílica — o dinheiro proveniente dos bilhetes é tratado como se de doações se tratasse. “Nós submetemos as nossas contas à Igreja Católica, tal como somos obrigados pela lei, a inexistência de acesso por parte do público a essa informação não é algo que me diga respeito“, disse Xavir Martínez.

Quando à possível construção da escadaria, trata-se de um tema ainda a ser discutido, com Martínez a mostrar-se disponível para discutir o assunto com os residentes, de forma a alcançar a melhor solução para todos. Já os representantes dos moradores, destacam a importância de encontrar uma solução que satisfaça as necessidades da cidade e não só da fundação.

ZAP //

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