Escândalos de corrupção, “partygate”, crise migratória e rebelião interna deixam Johnson por um fio

Andy Rain / EPA

Boris Johnson

A recente rebelião dos deputados Conservadores que votaram contra o pacote de medidas para combater a pandemia é a mais recente polémica que veio fragilizar a liderança de Boris Johnson. Nos bastidores, já se apontam nomes para quem poderá suceder ao actual líder Conservador.

Escândalos de corrupção, festas de Natal polémicas, uma crise pandémica com a variante Ómicron e uma rebelião dentro do seu próprio partido – é caso para dizer que os últimos dias não têm sido fáceis para Boris Johnson.

O último obstáculo foi a aprovação do pacote de medidas restritivas para controlar os contágios, que o primeiro-ministro só conseguiu com os votos da oposição, depois de 99 deputados Conservadores terem votado contra e posto em xeque a maioria parlamentar de 79 lugares de Johnson.

Já se esperava que a aprovação das novas medidas suscitasse críticas dentro do seu partido, depois de em Agosto, Johnson ter prometido que tinha chegado o “Dia da Liberdade” e que todas as regras, como os limites de lotação nos espaços, o uso de máscara ou o distanciamento social, iam acabar permanentemente.

No entanto, o número de deputados que abandonou o líder ultrapassou as piores expectativas, deixando o primeiro-ministro fragilizado e nas mãos da oposição, sendo esta a segunda pior rebelião Conservadora de sempre, batida apenas pelo voto ao primeiro acordo do Brexit, quando May era a líder. Recorde-se que neste mesmo ano, Boris Johnson deu ao partido a maior vitória parlamentar desde 1987.

Desde o Brexit que o Partido Conservador tem-se movido para a direita e eliminado as vozes mais do centro, com Johnson no leme, a prometer uma saída da União Europeia a todo o custo. A opinião dominante no partido é agora ideologicamente contra as medidas de contenção da pandemia.

E se há deputados que resumiram o seu voto contra com a oposição ao regresso do uso de máscara em alguns espaços e a obrigatoriedade da apresentação do certificado de vacinação, o timing desta instabilidade interna é também um sinal de que há membros dos Conservadores que querem correr com Johnson.

Um dos maiores aliados de Boris e um rosto conhecido na facção de direita do partido é Jacob Rees-Mogg, que ajudou a afastar Theresa May do poder, e não descartou a possibilidade de fazer o mesmo com o actual primeiro-ministro.

“É uma coisa muito difícil de se fazer, como se podem lembrar com a anterior líder”, revelou no podcast Moggcast, mas sinalizou também o seu apoio à rebelião dizendo que “temos de aprender a viver com a covid“. “Não podemos ligar e desligar a economia de mês em mês. A vida é sobre tomar riscos”, afirmou.

Johnson até pode partilhar da mesma opinião, mas com os avisos dos especialistas sobre a pressão que os novos casos estão a colocar no Serviço Nacional de Saúde (NHS), o primeiro-ministro teve de adoptar medidas de contenção, especialmente depois de, na quarta-feira, o Reino Unido ter atingido um novo recorde de infecções diárias – 78 610.

Por outro lado, este seu momento mais frágil está a causar burburinhos nos bastidores sobre uma possível sucessão e pode levar a que alguns nomes de peso do seu governo, como Rishi Sunak ou Liz Truss, alinhem com a oposição interna na esperança de poderem vir a substituir Johnson no futuro.

Mas esta está longe de ser a única preocupação de Boris Johnson neste momento. O chamado “partygate” conhecido na semana passada, veio abalar mais o primeiro-ministro britânico. Em causa está uma festa de Natal em Downing Street no ano passado que contrariou as normas sanitárias impostas pelo próprio governo.

A polémica sobre a festa levou à demissão de Allegra Straton, assessora de Johnson, e fez aumentar o coro dos apelos à saída do primeiro-ministro, com Keir Starmer, o líder dos Trabalhistas a acusar Boris de “tomar os britânicos por parvos” e de ter perdido “autoridade moral” para liderar o país durante a crise pandémica.

A crise migratória que já se arrasta há anos também não tem feito favores a Boris, especialmente depois da morte de 31 migrantes no Canal da Mancha e das trocas de galhardetes em público com a França. As críticas à política migratória dura da Secretária do Interior, Priti Patel, e à nova lei da nacionalidade também não ajudam.

O puxa-corda sem fim com a União Europeia sobre o protocolo da Irlanda do Norte e o discurso bizarro recente de Boris Johnson perante a Confederação da Indústria Britânica, onde o primeiro-ministro preferiu falar do seu amor por Peppa Pig e comparar-se a Moisés em vez de apresentar medidas da sua estratégia de “levelling up” da economia reforçam a imagem pública enfraquecida do líder do executivo.

Além disso, o recente escândalo de corrupção que abalou muitos deputados do Partido Conservador também não deixou Johnson bem na fotografia, com o primeiro-ministro a defender publicamente o deputado Owen Patterson, que foi acusado de usar o seu cargo público para beneficiar empresas para as quais trabalhou, e tentar bloquear a sua suspensão.

Boris Johnson também viu o seu nome envolvido nas polémicas, havendo questões sobre o pagamento de várias férias suas, incluindo umas passadas numa vila de luxo em Espanha detida pela família de um membro da Câmara dos Lordes que é suspeita de participar em esquemas de evasão fiscal.

A origem do dinheiro que pagou as obras de renovação do apartamento do primeiro-ministro em Londres também continua sem explicação.

Perante esta pilha de crises, esta quinta-feira, o bastião conservador de North Shropshire vai a votos, depois da demissão do seu ex-incumbente, Owen Paterson.

Antecipa-se uma corrida apertada entre o Conservador Neil Shastri-Hurst e a Liberal-Democrata Helen Morgan, havendo um risco considerável de uma vitória para os Liberais-Democratas, com o partido a enquadrar este voto como um referendo ao actual governo e apelar ao voto útil dos eleitores Trabalhistas.

Adriana Peixoto, ZAP //

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