As apostas de Trump para as pastas relacionadas com a Defesa e as Relações Internacionais estão a entusiasmar os grupos que apoiam a demolição de casas de palestinianos para a construção de colonatos israelitas.
As recentes nomeações de Donald Trump para a sua nova administração estão a ser celebradas pelos colonos israelitas de extrema-direita e por grupos sionistas nacionalistas, que encaram o regresso do trumpismo como uma oportunidade de ouro para acabar com quaisquer perspetivas de um Estado palestiniano.
Desde as eleições presidenciais americanas, tem-se verificado uma aceleração notória das demolições de casas palestinianas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, territórios ilegalmente ocupados por Israel desde 1967.
Fakhri Abu Diab, um ativista que durante anos liderou a resistência às demolições, afirma que os bulldozers regressaram no dia das eleições americanas para destruir a parte da sua casa deixada de pé pelas equipas de demolição municipais no início deste ano. 40 pessoas, incluindo crianças, ficaram sem casa.
“Há 20 anos que Israel quer demolir aqui e agora está a aproveitar a oportunidade. Esta é apenas uma forma de nos castigar e de nos obrigar a partir. Eu estou aqui, onde estavam os meus pais e os meus avós, e vou ficar aqui”, garante Abu Diab. A sua mulher, Amina acredita que, com Trump no poder, “não há nada que possa travar Israel”.
As autoridades israelitas afirmam que estas demolições são necessárias para a criação de espaços públicos, mas grupos de defesa dos direitos humanos argumentam que o seu objetivo é ligar os enclaves de colonos israelitas a Jerusalém Ocidental, isolando efetivamente as comunidades palestinianas. A ONG israelita Ir Amim alertou para o facto de estas ações indicarem o potencial de novas escaladas sob a administração Trump.
Do mesmo modo, no deserto do Negev, uma aldeia beduína foi demolida para dar lugar a uma nova comunidade judaica ortodoxa, enquanto na Cisjordânia, só na semana passada, foram destruídas 25 estruturas palestinianas.
Os nomeados de Trump são apoiantes declarados dos colonatos israelitas e críticos do Estado palestiniano. Mike Huckabee, nomeado para embaixador dos EUA em Israel, rejeitou o conceito de ocupação e é contra a solução de dois Estados.
Já Pete Hegseth, a escolha para secretário da Defesa, tem convicções cristãs profundamente conservadoras que se alinham com ideologias sionistas de extrema-direita. O secretário de Estado Marco Rubio também é contra um cessar-fogo e Elise Stefanik, a aposta para ser embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, já descreveu a ONU como uma “fossa de antisemitismo”.
Estas nomeações foram comparadas por alguns colonos ao reinado do rei Ciro, o Grande, visto como um libertador dos judeus nos tempos antigos. O grupo pró-colonização Ateret Cohanim — que está por trás de vários despejos de famílias palestinianas para dar as casas a famílias judias — saudou a nova administração como uma oportunidade para expandir a soberania israelita na Cisjordânia, a que a extrema-direita israelita se refere como Judeia e Samaria.
“Israel nunca poderia ter pedido nada mais do que isto. Não existe um país árabe na terra de Israel. O facto de ter havido muitas tentativas ao longo dos anos para fazer algo diferente é irrelevante”, disse Daniel Luria, um diretor que fala em nome da Ateret Cohanim, citado pelo The Guardian.
No seu primeiro mandato, Trump reconheceu Jerusálem como a capital de Israel e mudou para lá a embaixada dos Estados Unidos, que estava anteriormente em Tel Aviv, e reconheceu os Montes Golã sírios como território israelita.
Trump também nomeou o seu genro Jared Kushner para mediar o conflito e apresentar um plano de paz, apesar de o marido de Ivanka não ter qualquer experiência em negociações diplomáticas árabe-israelitas e de ter negócios e ligações a bancos israelitas, o que pôs em causa a sua imparcialidade.
A equipa de Kushner incluía David Friedman, um advogado com laços estreitos com o movimento de colonos judeus nos territórios ocupados. Recentemente, Friedman especulou sobre a possibilidade de o governo israelita avançar com a anexação formal dos teritórios ocupados na Cisjordânia no cenário de uma vitória dos Republicanos.
A expansão dos colonatos judaicos tem aumentado desde a escalada da guerra que teve início a 7 de outubro de 2023, na sequêcia dos ataques do Hamas a Israel. Os números oficiais apontam que atual ofensiva militar israelita em Gaza já causou mais de 43 mil mortos, na sua maioria civis.
Alguns ministros do governo de Netanyahu apelam ao regresso dos colonatos judeus a Gaza, que foram demolidos em 2005, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, declarou 2025 o “ano da soberania” para a Cisjordânia.
Apesar das críticas crescentes, as nomeações e políticas de Trump ressoam entre os cristãos evangélicos e os sionistas nacionalistas que vêem a expansão israelita como o cumprimento de profecias bíblicas. Os turistas que visitam a Cidade de David, por exemplo, fazem eco das crenças de que este território está divinamente destinado a Israel.
“Falaram do direito dos judeus a viver em todo o lado, de que é impossível dividir [Jerusalém] em duas, de que não se pode permitir o ódio e o mal à nossa porta e o terror… e tudo isto vem de um contexto bíblico… Tal como eu vejo o Rei David e Abraão, eles também os vêem”, remata Daniel Luria.