O pró-vida que “vai falar menos”. Gouveia e Melo promete ser “árbitro isento”

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MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA

Henrique Gouveia e Melo intervém no jantar da sua apresentação da candidatura à Presidência da República.

O almirante na reserva promete ser um “árbitro moderado por natureza”, que vai apitar só por Portugal. Mas não deixou de lado as farpas a Marcelo e Marques Mendes, mais uma vez.

O almirante Henrique Gouveia e Melo não é nenhum D. Sebastião, mas isso é só porque não vem do “nevoeiro para resolver problemas”.

O candidato à Presidência da República recorre ao futebol para lhe explicar, a si, como quer que veja a sua presença na corrida a Belém:

“Imagine um jogo entre dois clubes, e o árbitro aparece com a camisola de um dos clubes. A minha camisola só diz ‘Portugal’. ”

Sou um ator independente e procurarei ser um árbitro isento”, explicou o almirante esta segunda-feira à TVI e CNN Portugal, na sua primeira entrevista desde que anunciou a sua candidatura, onde tocou nas maiores “feridas” e tentou posicionar-se perto dos portugueses, mas longe dos partidos, de Marcelo e do seu adversário Luís Marques Mendes, no clube da política em que agora entra, já que este “não é fechado”.

O Rio que separa Rui e Ventura

“Eu sou moderado por natureza. Como presidente, os poderes são outros, as questões são de natureza mais política, não são de natureza operativa”, começou por dizer o almirante, que garantiu que não aceita o apoio de partidos, inclusive o do Chega. O apoio de Rui Rio, anunciado esta semana, é diferente.

“Rui Rio é uma pessoa que não está na política ativa. Situa-se ao centro, que é a minha área. Tenho grande afinidade com Rui Rio. André Ventura situa-se num outro extremo do espectro político, com o qual não tenho afinidade“, declarou, mas “se o povo o eleger e ele tiver condições para governar, terá de ser governo como qualquer outro partido” — se tiver maioria absoluta. Em caso de governo minoritário, “o se é já muito grande”.

Ficou claro aquilo que mais une o candidato a Belém ao ex-presidente do PSD: o desejo de uma reforma na justiça.

“O segredo de justiça não existe, há uma quebra presunção de injustiça, cria-se ruído, queimam-se as pessoas e depois os casos não dão em nada”, criticou, apontando a corrupção como “um grande cancro” que seria um dos seus alvos caso viesse a ocupar a Presidência, com “pressão” sobre o governo.

“Falarei menos”

Como tem sido habitual, Gouveia e Melo não se sentou como político para esta entrevista, e voltou a criticar quem faz o “curso da política”, que para si “não é um clube fechado”.

Se fosse presidente, Gouveia e Melo “começaria a falar menos e só quando for necessário e sobre coisas substantivas”.

Marques Mendes, o seu adversário, dizer que a sua candidatura é “um perigo para a democracia” deu “vontade de rir” ao almirante, que também disse o que faria diferente em relação ao ainda chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.

E há, aí, uma diferença grande: Gouveia e Melo “não teria convocado eleições” após a demissão de António Costa: dava posse a Centeno.

“Eu não teria feito o mesmo. Porque a estabilidade é uma coisa importante em termos da governação do país e do próprio desenvolvimento do país. E as eleições legislativas elegem uma Assembleia da República e da Assembleia da República é que se forma o governo. (…) A Assembleia da República que resultava dessas eleições legislativas tinha uma maioria absoluta e, portanto, poderia formar um novo governo”, argumentou.

Spinumviva? “Se afetar a reputação…”

Se “ser arguido não é razão para demitir um primeiro-ministro”, Gouveia e Melo disse não ter problemas em dissolver o parlamento face a “desenvolvimentos extraordinários” sobre o caso Spinumviva que afetem de forma grave a reputação do primeiro-ministro.

Gouveia e Melo começou por assinalar o princípio da presunção de inocência, mas também afirmou que existe uma perspetiva “ética e política” a ter em consideração, o que obriga a um “julgamento político” caso a caso.

O almirante na reserva considerou que “a questão da reputação” é de extrema importância para o exercício de cargos governativos e salientou que, apesar de a estabilidade governativa ser relevante para o país, “pode chegar-se a uma situação em que o desenvolvimento desse caso crie um problema de reputação e de credibilidade de tal forma grave que a própria governação pode ficar em causa”.

“Se fragilizar de forma grave a reputação do primeiro-ministro e depois, de alguma forma, contagiar o próprio governo ou a própria reputação do governo, isso vai afetar, certamente, a perceção das pessoas, do povo. E, se calhar, numa situação mais extremada, pode ter de se dissolver a Assembleia da República para voltar a dar voz ao povo”, admitiu.

Gouveia e Melo ressalvou, contudo, que o país “reconfirmou Luís Montenegro no cargo” nas últimas eleições legislativas, já com conhecimento sobre o caso Spinumviva e que “isso tem que ser respeitado”.

“Imigração regulada”

“A imigração desregulada vai criar grandes problemas aos países, porque fere os princípios humanistas”, apontou Gouveia e Melo, que criticou o fim do SEF, recusando-se a julgar, por outro lado, “outras comunidades pelas diferenças culturais”.

“Vamos trazer pessoas sem condições, criar guetos e problemas de imigração. A imigração é importante porque temos problema demográfico, mas deve ser regulada”, afirmou.

Eutanásia e aborto? “Sou pró-vida”

Questionado sobre o tema divisório da eutanásia, Gouveia e Melo mostrou-se algo dividido, mas acabou com qualquer especulação quando garantiu ser “pró-vida”.

“Eu sou pró-vida. Teria muitas dificuldades em deixar passar uma lei que de alguma forma facilitasse o suicídio assistido ou a eutanásia. Agora, há condições-limite para a tortura que um ser humano pode ser submetido em vida”, afirmou, garantindo que irá pedir a fiscalização da constitucionalidade ao Tribunal Constitucional da lei da eutanásia se for presidente.

Sobre o aborto, não quis entrar em pormenores porque “não é tema”, na sua opinião: “o problema está resolvido” e “reabri-lo não faz sentido”.

2 a 2,5% do PIB para Defesa

Gouveia e Melo disse que nunca defendeu o Serviço Militar Obrigatório, mas sim um modelo alternativo — porque “o que é obrigatório, não resulta”.

O candidato a Belém defende, sim, um reforço no investimento na Defesa, entre “2 a 2,5%” do PIB o “mais rapidamente possível”, mas admite que “antes de 2029 acho “será difícil”.

Mas também adianta que “ainda não é tempo para uma terceira guerra mundial”.

“Temos de ter 1% por cento da população com capacidade militar, que seria 100 mil pessoas, e temos apenas 22 ou 23 mil militares. Há pessoas que podem ficar na reserva”, explicou.

Sobre a situação “muito grave” a decorrer no Médio Oriente, o candidato garantiu que reconheceria o Estado da Palestina, se o Parlamento o aprovasse.

Tomás Guimarães, ZAP //

10 Comments

  1. As pessoas normais não gostam da guerra, os psicopatas sim, e há uma abundância deles na “elite” europeia.

    “Naturalmente, as pessoas comuns não querem a guerra; nem na Rússia, nem em Inglaterra, nem na América, nem, aliás, na Alemanha. Isso compreende-se. Mas, afinal de contas, são os dirigentes do país que determinam a política e é sempre fácil arrastar o povo, quer se trate de uma democracia ou de uma ditadura fascista, quer de um Parlamento ou de uma ditadura comunista. … [Com voz ou sem voz, o povo pode sempre ser posto ao serviço dos dirigentes. Isso é fácil. Basta dizer-lhes que estão a ser atacados e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e por exporem o país ao perigo. Funciona da mesma forma em qualquer país”.

    • E ensinem os vossos filhos a falar outras línguas … Pode ser importante quando os quiserem mandar combater para defender os tais banqueiros.

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  2. Gouveia e Melo não teriam eleições antecipadas? Bem me parecia que eram dois, Gouveia & Melo. Que vergonha é ignorância de jornalixo!

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  3. Ó camarada Melo já que vai ser comandante supremo da tropa então o Aguiar Branco faz lei ilegal e promove os sargentos a oficiais em 6 meses sem eles malharem 4 anos na academia militar nem malharem 6 anos em medicina? https://www.dn.pt/arquivo/diario-de-noticias/aguiar-branco-mantem-prazo-para-promover-enfermeiros-a-oficiais.html
    Dizem que os sargentos lateiros têm de ser oficiais porque é diretiva da NATO então e as outras diretivas da NATO não são aplicadas pá tropa toda, é só esta porquê? Inventam histórias que os sargentos lateiros têm de ser oficiais porque o sargento da cozinha manda neles, tudo falso, e o Aguiar Branco faz uma lei ilegal por encomenda com o Passos Coelho e o Marcelo que é comandante supremo da tropa.
    Então os oficiais a sério andam 4 anos a queimar as pestanas e a levar no corpo na academia militar ou 6 anos na medicina, e os sargentos lateiros em 6 meses são oficialato? ó camarada Melo é preciso despromovêl-os e devolver o dinheiro os impostos não param de subir para pagar esta gente à custa do contribuinte.

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    • Os oficiais ditos “a sério” andam 4 anos a queimar as pestanas porque quando entram na academia não têm qualquer formação para além do 12º ano, assim, têm de fazer a especialização correspondente a curso superior. Os enfermeiros e outros técnicos têm formação superior, pelo que, têm sim, o direito ao acesso ao posto de oficial sem terem de fazer novo curso de especialização.
      Não compreendo tamanha azia, essas promoções não prejudicaram ninguém.
      Porque será que um militar com 4 anos de formação (curso superior) deve ser mais do que um enfermeiro com os mesmos 4 anos de formação (curso superior)? Ambos estão no mesmo nível de formação.

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      • Ó camarada enfermagem e técnicos de saúde são cursos profissionalizantes o grau da licenciatura é um esquema não têm condições de ciência para essa categoria, os socorristas e auxiliares fazem o mesmo ensine e eles fazem porque não vão para oficialato? é preciso ir ao Aguiar Branco e encomendar uma lei ilegal?
        Ó camarada só é oficial verdadeiro da tropa quem malha 4 anos nos cursos da academia militar ou 6 anos na medicina, não é pelo canudo da licenciatura, qualquer um arranja e até com acesso às perguntas dos testes.
        Agora os sargentos lateiros são oficiais em 6 meses? é a «medicina operacional tão esquecida», lol, é o serviço de urgências da tv.

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