Em Bohorodychne restam apenas ruínas, gatos e um homem

V&A Dudush / Wikipedia

Bohorodychne, Ucrânia. A cúpula da igreja local está agora no chão, em pedaços

Depois de meses de combates, Bohorodychne, no leste da Ucrânia, transformou-se num campo em ruínas, onde se ouve apenas o miado dos gatos. Até que um homem se debruça sobre uma varanda.

A povoação, localizada na região de Donetsk, foi totalmente destruída após meses de bombardeio.

Os russos ocuparam-na durante o verão, mas as tropas de Kiev recapturaram a cidade em setembro, no decorrer de uma contraofensiva.

Durante os combates, nenhuma casa se salvou, reporta a agência AFP. A igreja azul, crivada de balas, está quase totalmente destruída. A sua cúpula dourada está agora no chão, em pedaços.

Na escola da aldeia, que tinha cerca de mil habitantes antes da guerra, o chão está forrado de livros e cadernos. Entre as mesas está o que os russos deixaram: colchões e algumas fardas de combate.

As ruas estão cheias de entulho e pedaços de carros destruídos. Alguns cães vadios seguem os visitantes sem latir.

Um gato mia desesperadamente, mas quando alguém se aproxima, foge.

De repente, na esquina de uma rua, um homem debruça-se na varanda de uma casa sem janelas. Yuri Ponomarienko dá gentilmente as boas-vindas aos visitantes.

O homem de 54 anos, natural de Bohorodychne, enviou a esposa e filha para a Polónia quatro dias antes do início da invasão russa, em fevereiro.

Na altura, fugiu quando os combates começaram em Bohorodychne, e esteve a viver em várias cidades e vilas no leste da Ucrânia.

Quando os combates acabaram, voltou para a cidade onde passou a maior parte da sua vida. Inicialmente, passava um dia aqui e outro ali, até que há uma semana se instalou numa casa que não é a sua — que foi completamente destruída.

“Acho que fui o primeiro a voltar a viver aqui, apesar de acreditar que há uma mãe e filho que nunca saíram da aldeia. Senti que tinha que voltar, tinha que voltar”, diz Ponomarienko à AFP.

Instalado numa pequena casa de de cinco ou seis metros quadrados, construiu um aquecedor de tijolos que irradia um calor reconfortante. Um termómetro pendurado num fio marca 18 graus.

O silêncio da aldeia é interrompido pelo barulho de um motor. Viktor Sklyar, de cerca de 50 anos, com um rosto jovial e olhos azuis penetrantes, veio à cidade com a esposa e filha para recolher o que pudessem de casa do irmão, à entrada de Bohorodychne.

“Soldados russos porcos instalaram-se na garagem da casa dele”, explica, apontando para a comida espalhada no chão e as chaleiras dos soldados.

“Acho que eram três, estavam a dormir na cava”, acrescenta, apontando para um quarto escuro coberto com um colchão cinzento encardido.

A casa está um caos, tudo destruído. Segundo Sklyar, os militares levaram a televisão, o micro-ondas, roupas, um machado para cortar lenha. “Dispararam contra o frigorífico”, diz, indignado, apontando para um buraco na porta do eletrodoméstico.

Pior ainda, mataram o cão da casa, e atiraram os seus restos para a garagem. Era um São Bernardo. “Um São Bernardo”, repete Viktor, angustiado.

ZAP // AFP

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