Os egípcios vão às urnas segunda e terça-feira para escolher um novo Presidente, escrutínio que, antes de ser realizado, já tem vencedor declarado: Abdel Fattah al-Sissi, o ex-chefe militar que derrubou o islamita Mohamed Morsi.
Na quarta-feira, a menos de uma semana da realização das eleições presidenciais egípcias, a comissão eleitoral informou que o antigo chefe das Forças Armadas e ex-ministro da Defesa, Abdel Fattah al-Sissi, obteve 94,5% dos votos dos eleitores egípcios residentes no estrangeiro.
O político veterano de esquerda Hamdeen Sabbahi, o único adversário de Sissi nas eleições, conseguiu, segundo os mesmos dados, 5,5% dos votos dos expatriados egípcios, que votaram entre 15 e 19 de maio em 124 países. A comissão eleitoral informou que Sissi venceu em todos os países.
Apelidado como o novo homem forte do Egito depois de ter deposto em julho de 2013 o Presidente Mohamed Morsi, o marechal Abdel Fattah al-Sissi, de 59 anos, definiu como prioridades a luta contra a pobreza e os problemas de segurança do país, argumentos que agradaram à opinião pública egípcia.
As expetativas são grandes no Egito, onde milhões de manifestantes reclamaram em finais de junho de 2013 a saída de Morsi — o primeiro presidente eleito democraticamente no país e apoiado pela Irmandade Muçulmana -, acusado de ter falhado a reanimação da economia egípcia após a revolta de 2011, que ditou o fim de três décadas de poder absoluto de Hosni Mubarak, marcadas pela corrupção e pelo crescimento das desigualdades sociais.
Mais de três anos depois de a revolta popular que reclamou “pão, liberdade e justiça social“, 40% da população egípcia continua a viver no limiar da pobreza (dois dólares por dia).
O futuro Presidente egípcio vai herdar uma economia enfraquecida. Os dados oficiais indicam que a inflação atingiu os 11,9% e o desemprego os 13%, incluindo um quarto dos jovens egípcios. Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), 39% dos jovens da faixa etária 20-24 anos estão sem trabalho. A dívida interna está estimada em 172 mil milhões de euros, 87,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
Campanha
Sissi, que conta com o apoio do exército, tem vindo a apelar para “um reforço do papel do Estado” na economia.
O ex-chefe militar defende que o Estado “deve verificar e participar no planeamento, na organização e na realização” dos projetos económicos.
Hamdeen Sabbahi, de 60 anos, apresenta-se como um defensor dos ideais de justiça social da revolta de 2011. O dirigente da Corrente Popular Egípcia foi o terceiro candidato mais votado nas eleições presidenciais de 2012, que foram conquistadas então por Mohamed Morsi.
Apesar de os especialistas darem como garantida a sua derrota, Sabbahi tem percorrido o país em campanha, promovendo um programa económico alicerçado na redistribuição da riqueza e assumindo-se como herdeiro do nacionalismo do carismático Gamal Abdel Nasser (presidente entre 1956 e 1970, ano da sua morte).
Outros dos argumentos apresentados Sabbahi é a vaga de violência que afeta o Egito desde a destituição e detenção do islamita Morsi.
O islamismo político é o grande ausente destas eleições, depois de a Irmandade Muçulmana ter sido declarada, em dezembro último, uma “organização terrorista”.
Abdel Fattah al-Sissi prometeu erradicar os “terroristas” e restabelecer a segurança e a estabilidade, mas Hamdeen Sabbahi diz temer o regresso de um poder autoritário ao Egito e recear que o marechal esteja longe de dissipar a vaga de repressão contra os apoiantes de Morsi e da Irmandade Muçulmana que fez, nos últimos 10 meses, mais de 1.400 mortos, 15 mil detenções e centenas de condenações à morte após julgamentos sumários.
Sabbahi defende uma reconciliação nacional que exclua a Irmandade Muçulmana como grupo, assegurando, no entanto, que terá uma postura mais tolerante em relação aos membros da confraria.
Contestação
Em resposta à repressão, o Egito tem sido cenário de atentados quase diários contra as forças de segurança, a maioria reivindicados pelo grupo fundamentalista islâmico Ansar Beit al-Maqdess, baseado no Sinai egípcio. Segundo as autoridades, esta vaga de violência já fez mais de 500 mortos.
No último dia de campanha, sexta-feira, vários responsáveis confirmaram a morte de Shadi el-Menei, líder do grupo Ansar Beit al-Maqdess.
Para contestar as eleições, que classificam como “farsa”, os islamitas da Aliança para a Defesa para a Legitimidade, que inclui a Irmandade Muçulmana, convocaram uma semana de protestos, que começou na sexta-feira.
No terreno está uma missão de observadores da União Europeia (UE), liderada pelo eurodeputado português social-democrata Mário David.
Após a resolução de problemas “administrativos e burocráticos”, que chegaram a condicionar o trabalho da missão, a equipa de observadores, composta por 150 elementos dos 28 Estados-membros da UE, Canadá e Noruega, irá supervisionar as eleições presidenciais por “todo o país”.
/Lusa