O surto de língua azul agravou-se e os prejuízos já passam os seis milhões de euros. Este ano, o borrego para o Natal vai sair mais caro aos portugueses.
A febre catarral ovina ou língua azul é uma doença viral que que está a afetar o gado ovino em Portugal, desde meados de setembro.
Num comunicado divulgado esta segunda-feira, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) alertou para um aumento da mortalidade desde o início de setembro, tendo-se já contabilizado “mais 40 mil mortes entre a população de ovinos, face a igual período do ano passado” e que o setor “precisa urgentemente de ajudas”.
A confederação agrícola reportou que os prejuízos com a febre catarral ovina já ultrapassaram os seis milhões de euros e que os efeitos poderão agravar-se nas próximas semanas.
O mais certo é que o impacto desta crise se faça sentir no Natal, uma vez que dois dos pratos tradicionais das famílias portuguesas nas festividades são o borrego ou cabrito assado.
“É um prejuízo enorme para o setor, sobretudo com a aproximação do Natal, que é o expoente máximo da venda de ovino e onde o preço já por si é alto. Há explorações inteiras que estão com quebras de 80%“, lamentou, ao Jornal de Notícias (JN), a secretária-geral da CAP, Marianela Lourenço.
“Pelo número de animais que estão a morrer e pelo número de animais que abortaram, espera-se uma quebra considerável em termos de disponibilidade de borrego para a venda”, referiu, ao mesmo jornal, Pedro Cardoso, médico veterinário e coordenador da Ovibeira.
Com o Natal quase à porta, o crescimento da procura e a diminuição da oferta, a solução passa pela importação.
Importa lembrar que a transmissão da doença é feita através de um mosquito e que não afeta a qualidade da carne, do leite ou dos seus derivados que possam vir de animais infetados.
Portugal falhou na vacinação
Em Portugal estão a circular três serotipos de língua azul, nomeadamente:
- o BTV-4, que surgiu, pela primeira vez em 2004 e foi novamente detetado em 2013 e 2023:
- o BTV-1, identificado em 2007, com surtos até 2021;
- e o BTV-3, detetado, pela primeira vez, em 13 de setembro.
Ao JN, Graça Mariano, da Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes, apontou o atraso na vacinação dos animais como a principal causa deste surto: “Este ano foi pior. A vacinação atrasou-se e o vírus vai evoluindo, com o surgimento de novas estirpes”.
“Não sabemos se as pessoas vão conseguir ter borrego para a consoada. Infelizmente, virão carcaças de outros países”, acrescentou.
A vacinação de ovinos e bovinos contra os serotipos um e quatro é obrigatória. Já contra o serotipo três é apenas permitida.
No entanto, para conter os efeitos, a CAP insta a inclusão imediata da vacinação obrigatória contra o serotipo 3 da Língua Azul para ovinos e bovinos no Programa de Sanidade Animal sem encargos para os produtores.
O Governo anunciou na semana passada que comprou mais de três milhões de vacinas contra a língua azul.
A DGAV autorizou, temporariamente, três medicamentos contra a língua azul, dois dos quais ainda não estão disponíveis no mercado.
Avisem se morre um animal
A confederação lamenta a falta de capacidade do Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA), que é coordenado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária do Ministério da Agricultura, considerando que este “não está dimensionado para uma situação catastrófica como a atual”.
“Muitos dos animais mortos por este surto de Língua Azul (…) terão de ser enterrados nos terrenos dos seus proprietários por incapacidade operacional do SIRCA. Esta é uma situação excecional, estando todas as associações de produtores conscientes das precauções que terão de assegurar em termos de biossegurança no enterramento dos animais”, disse.
Além do apelo ao Governo, a CAP lançou outro aos agricultores para que declarem os casos de doença, de forma a que a “real dimensão do surto seja verificada estatisticamente, de forma que os mecanismos de apoio existentes possam ser devidamente acionados”.
ZAP // Lusa