A apenas meio metro abaixo do solo, arqueólogos encontraram os restos de uma taberna que se acredita datar de 2.700 a.C. O espaço público foi encontrado na antiga cidade de Lagash, no atual Iraque.
“Consistia numa grande área comum que provavelmente era o lugar onde a comida era consumida”, diz Sara Pizzimenti, da Universidade de Pisa, em Itália, à BBC.
Lagash foi uma das maiores e mais antigas cidades do sul da Mesopotâmia e um dos primeiros centros urbanos do mundo. Fazia parte da civilização suméria, formada por uma série de cidades-estado às margens dos rios Tigre e Eufrates, que durou do final do Período Neolítico até ao início da Idade do Bronze.
Bancos, um forno e um frigorífico
Através de novas técnicas, como imagens de drones e análises de magnetometria — método que permite aos arqueólogos “ver” o solo sem escavar —, a equipa conseguiu cavar com mais precisão.
Ao chegarem à taberna, descobriram bancos, uma espécie de frigorífico de barro, um forno e restos de recipientes para armazenar alimentos, muitos dos quais ainda continham comida.
“Graças ao tipo de cerâmica encontrada no local e à arte glíptica (de talhar ou gravar em pedras preciosas), não há dúvida de que a taberna tenha quase 5 mil anos”, diz Holly Pittman, diretora do projeto, à BBC.
Mas como é que um dispositivo de refrigeração funcionava sem eletricidade? Um frigorífico de pote de barro depende da evaporação — e consiste em dois potes de tamanhos diferentes (um dentro do outro).
O pote externo, forrado com areia molhada, continha um pote interno, que era esmaltado para evitar a entrada de líquido — e a comida era colocada nele. A evaporação do líquido externo extraía o calor do pote interno. Qualquer coisa podia ser arrefecida nesses potes.
Localizada às margens do Rio Tigre, ao norte de onde encontra o Eufrates, Lagash foi um movimentado centro comercial durante o início do Período Dinástico, que durou de 3.200 a 2.900 a.C., quando foram fundadas algumas das primeiras cidades do mundo.
“Estamos a tentar entender como é que esta cidade se desenvolveu do sítio arqueológico menor que caracterizava a área em períodos anteriores para uma rede muito maior e muito mais integrada”, diz o arqueólogo Reed Goodman, da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, à BBC.
Sobras de comida com 5 mil anos
Próximo do forno e do frigorífico de barro, os arqueólogos encontraram tigelas de comida, frascos e potes. E não estavam vazios.
“Encontramos mais de 100 tigelas com restos de comida, o que nos faz acreditar que este era um lugar em que as pessoas da época passavam e pegavam algo para comer ou beber”, diz Pizzimenti.
O local não poderia ser uma cozinha doméstica, segundo a investigadora, “pela quantidade enorme de comida que era preparada”.
Os vestígios de comida revelam que a taberna servia peixe aos clientes que a visitavam há 5 mil anos.
“Dentro de cada um desses recipientes encontramos uma quantidade enorme de espinhas de peixes, muito bem preservadas”, conta Pittman. O que intriga os arqueólogos é porque é que a comida não foi consumida.
“Todas as coisas que encontramos foram simplesmente deixadas lá, por isso provavelmente aconteceu alguma coisa , mas não sabemos o quê — e isso é algo que queremos descobrir”, afirma Pizzimenti.
Falta uma peça do quebra-cabeças
Eles também querem descobrir quem eram os visitantes da taberna e qual era o seu estatuto social. Escavações anteriores no sítio arqueológico revelaram que a cidade de Lagash abrigava três complexos de templos, onde as classes altas viviam.
Mas os arqueólogos acham que a taberna não estava localizada numa área nobre da cidade.
“A vizinhança onde a taberna foi encontrada não parece ser uma área nobre. Parece que era um lugar frequentado por pessoas comuns”, diz Pizzimenti.
Eles acreditam que a taberna era um lugar em que as pessoas que trabalhavam fora de casa podiam fazer as suas refeições diárias.
“O que precisamos de descobrir é se essas pessoas trabalhavam na produção de cerâmica”, afirma Pittman. A equipa está ansiosa para descobrir mais sobre a vida das pessoas comuns em Lagash.
“Esperamos oferecer um bom contraponto a esse tipo de narrativa que há muito tempo defende esses lugares como espaços apenas para ricos e pobres, com muito pouca diversidade no meio”, diz Goodman.
ZAP // BBC