Descoberta em Torres Vedras nova espécie de mamífero com “dentes bizarros da sobrevivência”

Bruno Camilo et al.

Dentes bizarros o fóssil da nova espécie de mamífero encontrada em Torres Vedras

Uma nova espécie de mamífero do jurássico superior, com “”dentes bizarros” e que terá andado pela Terra durante cerca de 100 milhões de anos, foi descoberta em Torres Vedras.

Um novo estudo, publicado recentemente na revista científica Papers In Paleontology, descreve a descoberta de uma nova espécie de mamífero em Torres Vedras.

De acordo com os investigadores, o Cambelodon torreensis – como foi chamado – é um mamífero do Jurássico superior português que se acredita que possa ter andado pela terra durante cerca de 100 milhões de anos.

O fóssil já foi descoberto em 2022, em Cambelas, no concelho de Torres Vedras, no distrito de Lisboa, numa zona “onde estão pelo menos três dinossauros pequenos”, disse, à Lusa, o orientador da investigação Bruno Camilo.

A descoberta, que veio trazer informações “sobre a evolução dos mamíferos primitivos, bem como sobre a sua dieta e mecânica de mastigação”, foi estudada por investigadores portugueses, brasileiros e belgas, num trabalho desenvolvido maioritariamente por Víctor Carvalho durante a dissertação de mestrado em Paleontologia na NOVA FCT.

Bruno Camilo enalteceu a descoberta, descrevendo-a como “muitíssimo rara”, quer pela sua localização, quase numa espécie de armadilha natural, quer pela quantidade de ossos, incluindo dentes e a mandíbula de um mamífero da Ordem Multituberculata – um grupo extinto.

Dentes bizarros da sobrevivência

A espécie encontrada pertenceu ao grupo de mamíferos que terá conseguido sobreviver devido a algumas particularidades como “dentes bizarros”.

“Eram animais muitíssimo pequenos, do tamanho de um esquilo, quadrúpedes”, descreveu Bruno Camilo, acrescentando que a sua dentição “parece sugerir que seriam omnívoros, com uma alimentação generalista.

“Não há nada vagamente parecido com eles atualmente”, refere Ricardo Araújo, num comunicado em que vinca que “a descoberta do Cambelodon oferece dados absolutamente novos sobre a origem deste grupo”.

Substituição dentária extremamente rara

“De entre os mamíferos atuais e os multituberculados, a substituição dentária é predominantemente feita da frente para trás (incisivos primeiro, depois caninos, pré-molares e, por fim, molares). O Cambelodon possui uma troca de dentes inversa, ou seja, de trás para a frente e de forma não sequencial”, explicam os investigadores.

Essa substituição é extremamente rara: só se conhece mais dois exemplares de multituberculados em todo o mundo, uma espécie encontrada na China, e outra em Portugal, na mina da Guimarota, lê-se no texto.

O Cambelodon foi classificado como membro da família Pinheirodontidae, um grupo de multituberculados criado há quase 30 anos com base em fósseis encontrados em Portugal.

Desde então, representantes dessa família também foram identificados em Espanha, Alemanha e Inglaterra, mas todos conhecidos apenas por dentes isolados.

ZAP // Lusa

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