Não fosse uma estranha parede a 250 metros do fim da pista de aterragem, o avião “teria caído com a maioria — possivelmente todos — os que estavam a bordo ainda vivos”.
Imagens mostram o avião da Jeju Air a sair da pista antes de colidir com o muro e se incendiar no Aeroporto Internacional de Muan, uma tragédia que fez 179 mortos.
O acidente, do qual só saíram dois sobreviventes, poderia ter sido muito menos grave, dizem especialistas à BBC, não fosse esse muro.
O perito em segurança aérea David Learmount disse mesmo que, se a “obstrução” não estivesse lá, o avião “teria caído com a maioria — possivelmente todos — os que estavam a bordo ainda vivos”.
O piloto informou que o avião tinha atingido um pássaro e que tinha abortado a aterragem original, tendo pedido autorização para aterrar na direção oposta. O avião desceu então a alguma distância ao longo da pista de 2.800 metros e pareceu aterrar sem utilizar as rodas ou qualquer outro objeto de aterragem.
Learmount garantiu que a aterragem foi “tão boa quanto uma aterragem sem aparelho de tração de aterragem pode ser: asas niveladas, nariz não demasiado alto para evitar partir a cauda” e o avião não sofreu danos substanciais ao deslizar ao longo da pista.
O problema, que fez com que o avião se incendiasse, foi mesmo o embate contra o muro de betão que se encontrava a 250 metros do fim da pista.
Teoricamente, a estrutura de betão contém um sistema de navegação que auxilia a aterragem dos aviões, conhecido como localizador. Tinha 4metros de altura, estava coberta de terra e foi erguida para manter o localizador ao nível da pista, de modo a garantir o seu correto funcionamento. Teve o efeito contrário.
“A razão pela qual tantas pessoas morreram não foi a aterragem em si, mas o facto de o avião ter colidido com um obstáculo muito duro logo a seguir ao fim da pista”, garante o especialista.
Em declarações à Reuters, Christian Beckert, piloto da Lufthansa baseado em Munique, classificou a estrutura de betão como sendo “invulgar”. Normalmente, “num aeroporto com uma pista no fim, não se tem um muro“, realça.
Chris Kingswood, piloto com quase 50 anos de experiência que pilotava o mesmo tipo de avião envolvido no acidente, disse à BBC que “os obstáculos que se encontram a uma certa distância da pista têm de ser frágeis, o que significa que se um avião os atingir, eles se partem.
“Parece-me invulgar que se trate de uma coisa tão rígida. O avião, pelo que sei, estava a viajar muito depressa, aterrou muito longe na pista, por isso terá passado muito para lá do fim da pista. É certamente algo que será investigado”, disse.
“Os aviões não são estruturas fortes — são, por conceção, leves para serem eficientes em voo. Não foram concebidos para andar a alta velocidade de barriga para baixo, pelo que qualquer tipo de estrutura pode provocar a rutura da fuselagem e ser catastrófica”, acrescentou.
E receia que este caso não seja único: “Suspeito que se víssemos os aeródromos de muitos dos principais aeroportos internacionais... encontraríamos muitos obstáculos que poderiam ser igualmente acusados de representar um perigo“.
Curiosamente, por parte das autoridades coreanas, não se sabe de nem uma palavra sobre isso. Mandam parar os aviões do mesmo tipo, mandam o presidente da companhia não sair do país… quando o problema não foi o incidente (qualquer que tenha sido) que impediou uma aterragem normal mas sim esta aberração no fim da pista do aeroporto.