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Conversa da treta evoluiu para nos ajudar a estabelecer laços sociais fortes

MightyPirateThreepwood / Flickr

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Uma boa conversa fiada sempre foi uma maneira comum de passar o tempo ou quebrar um silêncio constrangedor, mas agora grupo de psicólogos evolucionistas sugere que esses diálogos superficiais são mesmo uma ferramenta de vínculo social transmitida através da evolução. 

A conclusão vem de um estudo com primatas sociais: a pesquisa descobriu que estes utilizam vocalizações de forma mais seletiva do que se pensava.

Os lémures-de-cauda-anelada (Lemur catta) vivem em grupos sociais e respondem primeiramente aos chamados dos indivíduos com os quais mantêm relações mais estreitas.

Enquanto o acariciamento é uma experiência de vínculo social comum entre os lémures e outros primatas, os investigadores descobriram que estes animais reservam as suas trocas vocais somente para os animais aos quais acariciavam com mais frequência.

Os lémures vocalizam para se manter em contato quando os membros do grupo estão separados, por exemplo, à procura de alimento.

“Os nossos resultados indicam que, quando os animais respondem a vocalizações, estão a trabalhar também na manutenção dos seus laços sociais”, afirmou Ipek Kulahci, doutor em Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Princeton, EUA, e principal autor do estudo.

Através da troca de vocalizações, os animais reforçam os seus laços mesmo quando estão longe um do outro. Esta seletividade é quase equivalente à forma como os seres humanos mantêm contacto regular com os amigos próximos e familiares, mas não com todos os que conhecem.

Evolução do discurso

Os resultados podem ter implicações na forma como os cientistas compreendem a evolução das vocalizações primatas e do discurso humano.

Algumas hipóteses existentes sobre a evolução da linguagem sugerem que as trocas vocais entre os primatas evoluíram com o tamanho do grupo. Quando há mais gente, acariciar para formar laços sociais leva demasiado tempo. Já o discurso economiza tempo, enquanto continua a expressar familiaridade.

No entanto, na nova pesquisa, as vocalizações ocorreram independentemente do tamanho do grupo. Estes resultados mostram uma ligação direta entre acariciamento – ou familiaridade – e vocalização que não tinha sido encontrada antes.

Os investigadores acreditam que conversar, mesmo que casualmente, é uma ferramenta evolutiva para o estabelecimento de proximidade.

Ao estudar as interações vocais e as redes de acariciamento de vários grupos de lémures, os cientistas compreenderam que as carícias só eram trocadas entre certos indivíduos. As vocalizações eram ainda mais seletivas – os animais só respondiam ao chamamento daqueles com quem se acariciavam bastante.

Os investigadores gravaram as vocalizações individuais e tocaram-nas para o grupo. Apenas os lémures que compartilhavam uma relação estreita com o indivíduo que emitiu a chamada responderam, mesmo se o lémure chamando não estivesse por perto.

Isto sublinha que os fortes laços sociais são indicados por trocas vocais, uma vez que o lémure vocalizando não podia ser visto ou cheirado pelo animal que respondeu.

O uso das duas interações em conjunto para estabelecer maiores níveis de familiaridade pode ajudar os cientistas a entender como as formas de comunicação estão inter-relacionadas. Como lémures, os seres humanos também interagem usando várias ações verbais e físicas complementares e contextuais.

HypeScience

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