Começou a vingança na Síria. Quem são os alauitas e porque são perseguidos?

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Wael Hamzeh / EPA

Crianças alauitas refugiadas no Líbano devido à escalada da violência

Os rebeldes prometeram inclusão e paz, mas o que entregaram aos sírios foi um novo caos político — a vingança contra as minorias que apoiaram Assad.

“Atacaram-nos, sem mais nem menos, massacraram-nos, os nossos amigos, os nossos vizinhos, os nossos filhos, os nossos familiares, os nossos sogros, todos eles, foram massacrados”, diz uma mulher que acampa da base aérea de Hmeimim, na região síria de Latakia.

Foi há 3 meses que caiu o longo regime de Bashar Al-Assad na Síria. Depois de algum tempo de relativa paz, voltam a rebentar conflitos, resquícios da antiga guerra civil, que deixou marcas na população.

Tudo começou no dia 6 de março, quando uma milícia que apoia o presidente deposto lançou um ataque armado contra as forças islamitas que agora tomaram o poder. Mas os muçulmanos xiitas que estão agora à frente do país não perdoaram os ataques, e dispararam uma onda de violência contra militares e civis. Quem mias sofre são os alauitas. Mas que etnia é esta e porque estão a ser massacrados?

Da promessa de paz à “limpeza étnica”

Os alauitas são uma seita religiosa, mas também um povo. São uma minoria xiita num país 90% sunita, mas são também a etnia de origem de Bashar Al-Assad — os alauitas constituíam uma grande parte da sua base de apoio e, segundo a SkyNews, ocupavam postos de topo no exército e nas agências de segurança durante a altura do regime ditatorial.

Agora, no entanto, estão a ser perseguidos pelas forças islamitas do atual regime, que tinham prometido derrubar o regime para instaurar a paz no país. A CNN entrevistou habitantes de uma aldeia da região de Latakia, que mostram que essa inclusão está muito longe de ser alcançada.

Segundo avança a Rede Síria para os Direitos Humanos (RSDH), mais de 800 pessoas já foram mortas nos ataques que se seguiram ao 6 de março. Os seus corpos ficam espalhados pelas povoações e são depositados em valas comuns.

“No início, foram às casas e confiscaram os telemóveis que encontraram… e depois deixaram a aldeia. Depois voltaram e saquearam a nossa casa. Depois foram-se embora”, contou uma habitante da aldeia de Sanobar. “E depois, pela terceira vez, entraram em casa e exigiram que todos os homens saíssem”, recorda.

“O meu pai e os meus dois irmãos. O meu pai era um professor reformado de 75 anos... deram um tiro na cabeça do meu pai… deram um tiro no coração do meu irmão”. Conta que à mãe apontaram uma arma à cabeça e chamaram-lhe “cão alauita”.

A CNN relata que teve acesso a um vídeo publicado por um homem sírio com dezenas de milhares de seguidores. Nas imagens, vê-se o militar a usar uma máscara e a cantar “limpeza étnica, limpeza étnica“, enquanto caminha numa casa que foi saqueada.

Wael Hamzeh / EPA

Refugiados sírios alauitas em fuga para o Líbano para fugir aos ataques

À media em que a violência escala e se torna cada vez mais perigoso para as famílias alauitas continuarem nas cidades costeiras de Latakia ou Tartus, muitas estão em fuga para o Líbano, com quem o país faz fronteira a Sul, onde passam a viver como refugiadas.

Cerca de 10.000 alauitas estão também acampados na base aérea de Hmeimim, onde se encontram os militares russos na Síria.

É lá que, na reportagem da SkyNews, uma mulher apela ao mundo: “Precisamos de ajuda, ajuda internacional. Precisamos de forças internacionais de manutenção da paz”.

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1 Comment

  1. O Alcorão 9:5, conhecido como o Versículo da Espada, afirma:

    “Quando os meses sagrados tiverem passado, então mate os politeístas onde quer que os encontre e capture-os e sitie-os e fique à sua espreita em todos os locais de emboscada.”

    Estado Islâmico contra os yazidis em 2014, onde milhares de pessoas foram mortas ou escravizadas. Vemos isso na deslocação histórica e contínua de judeus, cristãos, drusos e alauitas por todo o Médio Oriente e África, muitas vezes com violência, em conflitos que duram séculos.

    Não é vingança, é ordem do Allah.

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