CML paga salário vitalício de 2500 euros a escritor argentino (e casa de banho exclusiva)

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CML

Alberto Manguel com Fernando Medina

O escritor e investigador argentino Alberto Manguel com Fernando Medina na cerimónia de doação dos seus livros.

A Câmara Municipal de Lisboa (CML) paga 2500 euros por mês, a título vitalício, ao escritor, investigador e bibliógrafo argentino Alberto Manguel. O contrato foi assinado aquando da presidência de Fernando Medina no âmbito da doação dos 40 mil livros de Manguel que vão ficar numa biblioteca pública em Lisboa.

O valor refere-se à remuneração de Manguel enquanto director/coordenador artístico do Centro de Estudos da História da Leitura (CEHL) que está a nascer em Lisboa desde 2020, altura em que foi assinado o protocolo com o escritor argentino.

Em Setembro de 2020, a CML anunciou a assinatura do protocolo com Manguel para a doação do seu espólio pessoal de 40 mil livros. Essa colecção vai ser exibida no CEHL, no Palacete dos Marqueses de Pombal, na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa.

A autarquia só tinha divulgado o protocolo até que a revista Sábado solicitou acesso à restante documentação do processo. Assim, a publicação conseguiu confirmar, no contrato assinado por Medina, que Manguel tem direito a receber um ordenado de 2.500 euros por mês que a CML deve pagar até à sua morte.

Isso mesmo ficou estipulado no contrato assinado a 15 de Outubro de 2020, onde a CML também assumia o compromisso de reabilitar e de manter o Palacete dos Marqueses de Pombal para acolher os livros do escritor argentino.

Cozinha e casa de banho exclusivas para Manguel

Mas a CML também fica obrigada a construir no Palacete “um espaço de trabalho exclusivo, como um espaço funcional, composto por cozinha e instalações sanitárias exclusivas” para Manguel.

Além disso, deve garantir o acesso contínuo, permanente e vitalício de Manguel ao CEHL, bem como o acesso de quem este indicar. E terá ainda de “custear as despesas de viagem de ida e volta para Lisboa e a estadia de um consultor da colecção de Alberto Manguel com vista à implementação do CEHL”, aponta o contrato citado pela Sábado.

Em Fevereiro deste ano, o crítico literário João Pedro George lamentava, num artigo na Sábado, que “dois anos depois” da assinatura do protocolo, a autarquia “ainda está a catalogar o conteúdo” da biblioteca de Manguel, com os custos “todos para o lado público” e “pouco transparentes”.

“Só em 2023, vão ser gastos 3 milhões”, escrevia também o crítico literário, lamentando a “falta de transparência do estranho negócio“.

Manguel revela dificuldades económicas com outras cidades

No âmbito do acordo com a CML, Manguel mudou-se do Canadá para Lisboa, juntamente com os seus livros. Em Agosto de 2022, revelou, numa entrevista ao jornal de Lisboa A Mensagem que foi Medina quem o convidou a expor a sua biblioteca em Portugal.

“Recebi outras ofertas da Cidade do México, Istambul ou Quebec. Mas todos estes projectos falharam por razões burocráticas, económicas e outras“, referiu ainda.

Salman Rushdie diz que Lisboa adquiriu “duas bibliotecas pelo preço de uma”

No vídeo de apresentação da biblioteca de Manguel divulgado pela CML, salienta-se que ele “já foi descrito como um dos maiores leitores do mundo“.

Antigo director da Biblioteca Nacional da Argentina, entre 2016 e 2018, Manguel teve planos para se instalar num mosteiro medieval em França. Mas acabou por rumar a Lisboa.

O escritor Salman Rushdie aparece no vídeo de divulgação da CML a elogiar a biblioteca de Manguel e a congratular a cidade por ter adquirido o arquivo do argentino e por ter “adquirido o próprio Alberto Manguel”. “Adquiriram duas bibliotecas pelo preço de uma: uma biblioteca humana e outra com livros mesmo”, aponta.

“A sua biblioteca é uma das maravilhas do mundo e, possivelmente, uma das melhores bibliotecas privadas do mundo”, refere ainda Rushdie.

No vídeo de divulgação, a CML repara que a colecção de Manguel é “um monumento literário do século XX” que se tornou “um paraíso desejado por escritores de todo o mundo”.

Descrevendo a biblioteca como “um pequeno tesouro” que reflecte “os gostos e as escolhas pessoais de Manguel”, a autarquia repara que inclui livros de figuras como “Cervantes, Dante, Jorge Luís Borges, Lewis Carroll, Rudyard Kipling e obras de tempos medievais altamente valiosas”.

Susana Valente, ZAP //

16 Comments

  1. E a guerra pela sucessão de Costa continua. O PS em guerra interna e o país a assistir e a perder oportunidades de desenvolvimento. Sr. Presidente da República, está à espera de quê?!

  2. Não me chocava tanto caso tivessem comprado o espólio e pago de uma vez, agora um salário e mordomias vitalícias, parece-me um assunto, mais um, para fazer correr ainda muita tinta… Os 2500€ pagam segurança social e irs, tal como os portugueses que trabalham e pagam esse salário? Ou são mais uns 5000€ que dão os 2500€ limpos?!

    O denominador comum continua lá, e não estou a falar da cidade árabe…

  3. Mas que negócio é este sr. Medina!?
    Desapareça, que os portugueses vão pagar bem pelas suas decisões, melhor pelos seus negócios.

  4. Tenho uma colecção de disquetes de computador e uma colecção de bonecos dos que vinham nos pacotes de detergente – tudo relíquias! esta notícia veio trazer esperança para o meu caso. Vou já falar com este cavalheiro, vou já fazer negócio… Qualquer coisa vitalícia

    • Livros são outra coisa – nem cassetes nem bonecos se lhe comparam. Aprende-se na escola a respeitar a cultura, mas infelizmente muitos não aprendem nunca.

      • preferia que ele ficasse com os Livros todos em vez de os ter vendido Milionariamente á Camara de Lisboa.Este é mais um Negocio á Medina , mais Milhões Jogados fora e nós a pagar.Já agora com disquetes até se pode aprender mais que nos livros, levam mais informação.

  5. Esta negociata cheira muito mal… Muitos adjectivos sem qualquer valor… Porquê tantas mordomias para um estrangeiro que ninguém conhece? Para uns livros que ninguém sabe quais são, ou se haverá quem os queira ler!? É gastar vilanagem, com o dinheiro dos contribuintes!

  6. O dinheiro corre facilmente para esta malta,
    São contratos vitalicios, são os deputados que trabalham sol a sol durante 6 anos e ficam com a vida feita.
    Só eu e os restantes tugas é que levam com uma carga fiscal devoradora, esses que trabalhem até morrer!
    Agora digam os palavrões que quiserem, que todos serão poucos… pk se eu aqui escrever, o crivo vai anular o meu comentário.

  7. Pois… Eu também tenho dedicado os meus 50 anos de vida a formar uma Biblioteca. Cerca de 10.000 volumes, incluindo manuscritos medievais até ao século XIX e uma secção de livro antigo, dos sécs XVI ao séc. XVIII, e 3 edições MOLEIRO, totalmente esgotadas. Continua em actualização. Edições recém-lançadas e edições esotadas… Já foi posta na rua, num inverno torrencial, foi de Gaia para Paredes, onde esteve num armazém com sacos de batata, de gesso e de cimento, postos em cima; regressou a Gaia, onde encheu um armazém abandonado; viajou para outro armazém, em Serzedo; parte dela voltoua a viajar para um local, em Gaia; a outra parte, para outro armazém. Já sofreu uma inundação…

  8. Tudo isto é uma cambada de meninos “novos ricos”inscritos num partido e que têm a mania que sabem governar, sabem é gamar e encher os bolsos aos amigos, aos funcionários da câmara não deu ele um tostão. Ainda havemos de ver mais histórias deste rapaz, é só dar-lhe tempo. É o lindo país que temos.

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