É um novo recorde: nunca nenhum macaco reso clonado viveu tanto tempo. ReTro — cujo embrião é produzido através da técnica utilizada para criar a ovelha Dolly — representa um farol de esperança na clonagem de primatas.
É um novo recorde para a longevidade de macacos resos (Macaca mulatta) clonados.
Há mais de dois anos que um reso clonado por investigadores da Academia Chinesa de Ciências (CAS) se mantém vivo, apesar de quase metade dos embriões de macaco clonados perecerem, historicamente, por volta do 60º dia de gestação.
Os poucos que sobrevivem ao nascimento vivem normalmente por um curto período — alguns por apenas semanas ou meses, enquanto outros por apenas horas ou dias —, uma alta taxa de mortalidade que tem sido atribuída a problemas na expressão genética durante as fases de desenvolvimento.
Criado com recurso a um inovador método destinado a melhorar o desenvolvimento da placenta de um embrião clonado, o macaco macho recordista representa um farol de esperança na clonagem de primatas.
Como foi clonado?
Em cenários típicos, os perfis de expressão genética da placenta de um feto mudam à medida que o feto cresce. No entanto, em fetos clonados, essas mudanças nem sempre ocorrem conforme o esperado, levando a problemas de desenvolvimento.
No entanto, desta vez, os investigadores do CAS identificaram, de acordo com o Science Alert, a raiz do problema nas células somáticas do embrião clonado, particularmente nas células da camada trofoblástica externa do embrião, cruciais para o fornecimento de nutrientes e formação da placenta.
A equipa desenvolveu um método de substituição do trofoblasto que, de acordo com o estudo publicado esta terça-feira na Nature Communications, envolve a incorporação das camadas internas de um embrião clonado no trofoblasto de um embrião não clonado, criando um embrião “híbrido” com um trofoblasto não clonado.
O embrião clonado inicial é produzido através de transferência nuclear de células somáticas (SCNT), uma técnica já antes utilizada para criar, por exemplo, a famosa ovelha Dolly, em 1996, que se tornou o primeiro mamífero a ser clonado com sucesso a partir do material genético (ADN) de uma ovelha adulta.
A transferência nuclear de células somáticas é uma técnica que permite criar um organismo geneticamente idêntico, ao gerar um óvulo, cujo núcleo foi previamente removido, com o núcleo de uma célula diferenciadora de um dador.
O óvulo – célula reprodutora feminina – com novo material genético é fertilizado e reimplantado no útero do animal dador, neste caso o de uma fêmea de macaco.
Método imoral?
As preocupações éticas continuam a sombrear o campo de pesquisa das técnicas de clonagem, tal como aconteceu na altura em que a pequena Dolly “nasceu”.
No entanto, a argumentar contra os riscos para o bem-estar animal mantêm-se firmes potenciais benefícios, como o estudo de gémeos entre primatas intimamente relacionados aos humanos.
A equipa da CAS confirma que adere, no entanto, às diretrizes éticas internacionais e que a sua pesquisa é 100% legal na China.
Alguns especialistas não são facilmente convencidos e argumentam que a pesquisa chinesa reduz animais altamente inteligentes a meros objetos, desprovidos de consideração moral.
Aplicações além da clonagem
A taxa de sucesso do método de substituição do trofoblasto permanece baixa, com apenas um feto vivo resultante de 113 embriões SCNT ativados e 11 transferências de embriões.
Apesar dos resultados algo dececionantes, os investigadores permanecem otimistas de que a sua estratégia pode melhorar significativamente as taxas de sucesso ao “abordar questões especificamente relacionadas com o trofectodermo, que desempenha um papel crucial no desenvolvimento embrionário inicial e na implantação”, escreve a equipa.
Além disso, o método pode ter implicações de maior alcance, para lá da clonagem. Poderia eventualmente ser aplicado a técnicas convencionais de fertilização in vitro (FIV) destinado a embriões humanos com anormalidades ou deficiências nas células do trofoblasto.