Esta cidade italiana celebra a chegada do Natal com uma procissão de fogo

Em dezembro, milhares de tochas transformam a cidade italiana de Agnone na capital mundial do fogo.

No último mês do ano, Agnone é palco de uma procissão que junta centenas de pessoas com tochas na mão no centro da cidade, num ritual que tem sido mantido há centenas – ou talvez milhares – de anos.

O Ndocciata, assim conhecido, é historicamente realizado na véspera de Natal e também no primeiro e segundo sábados de dezembro.

Aquele que é considerado um dos maiores rituais do mundo, junta pessoas com tochas de 3 metros, num ritual simbólico para se livrarem do mal, estabelecer as bases para um ano novo e dar as boas-vindas aos dias que ficam mais longos novamente.

Apesar de as origens desta tradição se terem perdido, sabe-se que a adoração do fogo durante a época mais escura do ano tem raízes pagãs.

“Celebrar os solstícios era comum a muitos povos na Europa e fora dela, especialmente nas sociedades agrícolas”, explicou Kathryn Lomas, investigadora na Universidade de Durham, ao Atlas Obscura.

“Usar fogo e luz é uma característica comum, porque o solstício de inverno marca o ponto mais escuro do ano, a partir do qual os dias ficam mais longos novamente”, acrescentou.

Apesar de Ndocciata ser um ténue eco dos antigos festivais pagãos, o ritual foi alterado ao longo dos milénios por eventos históricos intervenientes, nomeadamente a ascensão do Cristianismo.

O ritual que conhecemos hoje remonta, pelo menos, a 1870, o primeiro ano em que foi oficialmente documentado, quando era predominantemente usado por agricultores para abençoar as suas colheitas e afastar as bruxas, consideradas uma ameaça muito real no século XIX.

A procissão também servia para iluminar o caminho dos agricultores que moravam no campo até à ireja para estarem presentes na missa da meia-noite da véspera de Natal na cidade.

Além disso, ajudava a prever o futuro: se a bórea (vento norte) soprasse durante a queima das tochas, esperava-se que fosse um ano promissor.

O portal esclarece que Ndocciata foi formalizado em 1932 com um concurso para as tochas mais bem construídas apesar de, atualmente, o ritual já não se focar na competição.

Ndocciata dos dias de hoje

Durante mais de 100 anos, a procissão foi celebrada exclusivamente na véspera de Natal. Depois, em 1996, os habitantes locais levaram a tradição a Roma, no dia 8 de dezembro, para o 50º aniversário do sacerdócio do Papa João Paulo II.

O evento, no qual 1.200 tochas brilharam intensamente, chamou a atenção da comunicação social italiana e não só, tendo sido noticiada em países como os Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Por ter captado tamanha atenção internacional, a cidade começou a realizar uma segunda Ndocciata, muito maior, a partir de 2000, no dia 8 de dezembro.

Agora, acontece no segundo sábado do mês de dezembro e atrai mais de 20 mil visitantes. A histórica procissão também acontece na véspera de Natal, embora seja muito mais pequena. É apenas um momento especial partilhado entre os habitantes locais.

O mais curioso é que, desde o ano passado, várias cidades italianas uniram forças e criaram o Ritual Fire Festival, uma Ndocciata conjunta que tem lugar em Agnone, no primeiro sábado de dezembro.

Este ano, 15 cidades das regiões de Molise, Puglia, Abruzzo e Toscana reuniram-se para celebrar o ritual em Agnone, que contou com a participação de mais de 600 pessoas e com a visita de cerca de seis mil.

ZAP //

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