Ciclone Chido arrasa Moçambique: 35 mortos, 36 mil casas destruídas (e doença a chegar)

UNICEF

Crianças de pé no meio de uma estrada na cidade de Pemba, no norte de Moçambique, depois de esta ter sido devastada pelo ciclone Chido.

Ventos de 260 quilómetros por hora afetaram 35 mil famílias.”Boa parte da população de Cabo Delgado [a província mais afetada, seguida de Nampula e Niassa] perdeu as suas casas”.

O ciclone tropical Chido matou 45 pessoas e afetou 181 mil nas províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula, norte de Moçambique, segundo um novo balanço do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) divulgado esta quarta-feira.

O maior número de óbitos ocorreu em Cabo Delgado, província de entrada do ciclone no domingo, com 38 mortes, seguida de Nampula, com quatro, e Niassa, com três. O bispo de Pemba, Juliasse Sandramo, descreveu hoje à Lusa como arrasador o resultado da passagem do ciclone na província de Cabo Delgado.

Arrasador. O distrito de Mecúfi, de Chiúre, ficou arrasado. Praticamente 80% das casas das populações ficaram danificadas. 80% até é pouco, deve ser mais. Também as casas convencionais ficaram sem os tetos, as paredes permaneceram, mas os tetos voaram ou parte do teto voou. E aqueles outros que ficaram sem nada mesmo. Então, é devastador”, assumiu.

Segundo o relatório preliminar das autoridades moçambicanas, com dados de até as 18:00 de terça-feira, pelo menos 493 pessoas ficaram feridas, uma está desaparecida e um total de 35.689 famílias foram afetadas, o correspondente a 181.554 pessoas.

A passagem do ciclone Chido causou ainda a destruição total e parcial de 36.207 casas, afetando também 48 unidades hospitalares, 13 casas de culto, 186 postes de energia, nove sistemas de água e 171 embarcações.

O INGD indica ainda que 149 escolas, 15.429 alunos e 224 professores foram afetados pelo mau tempo.

O ciclone tropical, que se formou em 5 de dezembro no sudoeste do oceano Índico, entrou no domingo pelo distrito de Mecúfi, na província de Cabo Delgado, com ventos que rondaram os 260 quilómetros por hora e chuvas fortes.

O Governo moçambicano anunciou que enviou equipas multissetoriais para as províncias de Cabo Delgado e Nampula, para dar assistência às populações afetadas pelo ciclone, que saiu do território moçambicano na terça-feira. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) reconheceu que o Chido agravou as necessidades de populações no norte de Moçambique deslocadas pelo terrorismo, com 190 mil pessoas a precisarem de “apoio urgente”.

“Boa parte perdeu as suas habitações” em Cabo Delgado

Ainda segundo o bispo Juliasse Sandramo, os distritos de Cabo Delgado afetados pelo ciclone Chido “estão numa situação difícil”, apesar de algumas organizações, incluindo da Igreja Católica, estarem no terreno a tentar ajudar, mas alertou que a necessidade de ajuda vai prolongar-se, nomeadamente no fornecimento de lonas para restabelecer as coberturas das casas precárias, quando se está em plena época das chuvas.

Boa parte da população perdeu as suas habitações, aquelas de construção simples, material local. Podem conseguir estacas e o resto, mas será muito difícil conseguir nestes dias o capim para fazer a cobertura. O capim só aparecerá e vai estar em condições a partir de junho ou julho do próximo ano e aproxima-se o período das chuvas. É muito importante que cada família ao menos tenha uma lona, poderão fazer uma casa e cobrir quando houver chuva”, apontou, descrevendo que esta urgência é “muito grande”.

O bispo refere-se ainda a outros efeitos do ciclone, como na agricultura.

“Está-se no período da sementeira. Algumas famílias que tinham as sementes guardadas, ficaram também estragadas por causa das chuvas. Agora é preciso repor para que possam voltar a lançar à terra a semente. Isto é importante, depois vem o resto como a comida, a reposição das infraestruturas, como na saúde, para que as pessoas possam voltar a ser atendidas. Muitas pessoas ficaram feridas e vão emergir também certas doenças nos próximos dias”, sublinhou ainda, reconhecendo igualmente que várias escolas estão sem condições para retomar as aulas em fevereiro.

“Todos nós vamos tentando lançar SOS para ver o que podemos conseguir em favor deste povo tão sofrido, por um lado pela guerra e agora por este esta catástrofe natural”, lamentou, embora apontando que a população e as organizações locais estavam mais preparadas após as lições de ciclones anteriores que afetaram a província de Cabo Delgado.

Antes, a a passagem do ciclone tropical afetou as ilhas francesas de Mayotte.

ZAP // Lusa

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