
Genghis Khan unificou as tribos nômades antes de conquistar grandes áreas da Eurásia
Um museu francês suspendeu uma exposição sobre o líder mongol Genghis Khan por causa de uma tentativa de censura do governo chinês, revelaram os responsáveis pelo espaço cultural.
O museu de história da cidade de Nantes, no oeste de França, anunciou na segunda-feira que ia atrasar em mais de três anos a abertura da exposição sobre o lendário fundador do império mongol do século XIII, noticiou a agência AFP.
Os preparativos para a exposição, planeada em colaboração com o Museu da Mongólia Interior em Hohhot, na China, tiveram problemas depois de o departamento de Património Cultural chinês ter pressionado para que fossem feitas alterações ao plano do projeto original, “incluindo elementos notáveis de reescrita tendenciosa da cultura mongol em favor de uma nova narrativa nacional”, disse o museu de Nantes.
As autoridades chinesas exigiram que certas palavras, incluindo “Genghis Khan”, “império” e “mongol”, fossem removidas da exposição, e mais tarde pediram controlo sobre os textos, mapas, brochuras e comunicações da exposição, revelou o museu.
Esta situação coincide com uma postura chinesa mais dura contra os mongóis étnicos, que correspondem a cerca de 6,5 milhões dos 1,4 mil milhões de habitantes da China e vivem principalmente na província da Mongólia Interior. Esta tem enfrentado protestos e boicotes a escolas por causa de uma política que exige que se ensine política, história e literatura em mandarim ao invés da língua local.
“O regime chinês proíbe narrativas históricas que não coincidam com as suas narrativas oficiais. E tenta fazer o mesmo no exterior”, escreveu no Twitter Valerie Niquet, especialista em Ásia da Fundação para Investigação Estratégica de França.
https://twitter.com/AntoineBondaz/status/1315596741828374528
Antoine Bondaz, investigador da fundação, também apoiou a decisão do museu no Twitter, qualificando de “loucas” as alegadas exigências chinesas. “O museu de Nantes e o museu Hohhot tinham boas relações de trabalho até que Pequim mudou as suas políticas e tentou impor a sua narrativa no exterior”, acrescentou.
O “endurecimento neste verão da posição do governo chinês em relação à minoria mongol” levou à suspensão da exposição, disse o museu. “Decidimos interromper essa exposição em nome dos valores humanos, científicos e éticos que defendemos”, sublinhou o diretor do museu, Bertrand Guillet, em comunicado.
A exposição, que deveria estrear-se na próxima semana, já havia sido adiada para o primeiro semestre de 2021 por causa da crise do coronavírus. Porém, o museu avançou que agora foi “forçado a adiar a exibição até outubro de 2024″, o que dará tempo para construir uma nova exposição, apresentando obras de coleções europeias e americanas.