China simula ataque direto contra Taiwan durante os seus exercícios militares

Ritchie B. Tongo / EPA

Caça Mirage 2000-5 da Força Aérea de Taiwan em exercícios em Hsinchu

O Exército chinês simulou ataques de precisão contra Taiwan este domingo, no segundo dia de exercícios militares em torno da ilha. O Ministério da Defesa de Taiwan relatou várias saídas forçadas de aviões e disse estar a monitorizar as capacidades de mísseis da China.

A China iniciou três dias de exercícios militares à volta da ilha no sábado, um dia após a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, ter regressado de uma curta passagem pelos Estados Unidos (EUA).

A televisão estatal chinesa informou que as patrulhas de prontidão de combate e os exercícios próximos de Taiwan vão continuar. “Sob o comando unificado do centro de operações conjuntas, vários tipos de unidades levaram a cabo ataques de precisão simulados contra alvos críticos da ilha de Taiwan e as restantes áreas próximas, e vão continuar a manter uma postura ofensiva à volta da ilha”, afirmou o canal.

À agência Reuters, uma fonte com conhecimento próximo da situação de segurança na região disse que a China tem conduzido ataques aéreos e marítimos simulados contra “alvos militares estrangeiros” nas águas junta à costa sudoeste de Taiwan.

“Taiwan não é o único alvo”, disse a mesma fonte, que falou sob anonimato por não estar autorizado a prestar declarações aos media.

O Ministério da Defesa de Taiwan referiu que até domingo ao meio-dia (05:00 em Portugal continental) detetaram 58 aviões, incluindo caças Su-30 e bombardeiros H-6, para além de nove navios, à volta da ilha.

O ministério disse estar a prestar mais atenção à Força de Rockets do Exército de Libertação do Povo, que é responsável pelos sistemas de mísseis terrestres, e reiterou que as forças taiwanesas “não vão fazer escalar o conflito nem causar disputas” e que vai responder “de forma apropriada” aos exercícios chineses.

A fonte do sector de segurança disse que cerca de 20 navios militares, metade de Taiwan e metade da China, estiveram envolvidos num impasse perto da linha mediana do Estreito de Taiwan, que há vários anos tem servido como uma barreira oficiosa entre as duas partes, mas não se comportaram de forma provocadora.

O porta-aviões chinês Shandong, que Taiwan tem monitorizado desde a semana passada, está a mais de 400 milhas náuticas da costa sudeste de Taiwan e tem participado em exercícios, disse a mesma fonte.

Zhao Xiaozhuo, da Academia de Ciências Militares da China, disse ao jornal estatal Global Times que esta foi a primeira vez que a China falou abertamente de ataques simulados contra alvos em Taiwan.

Os alvos escolhidos incluíram infraestruturas, como pistas de aterragem, instalações de logística militar e alvos móveis para “os aniquilar num só golpe, se necessário”, disse Zhao, citado no artigo.

Em Taiwan, a vida correu de forma normal, sem qualquer sinal de pânico ou de perturbação por causa dos exercícios chineses.

Em agosto do ano passado, após a visita a Taipé por Nancy Pelosi, na altura presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, a China organizou manobras militares à volta da ilha, que incluíram o disparo de mísseis para as águas próximas da ilha. Desta vez, não foram anunciados exercícios semelhantes.

Na semana passada, Tsai encontrou-se com o atual presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, num encontro oficialmente designado como parte da escala técnica no regresso de uma viagem à América Central, apesar dos avisos de Pequim contra a reunião.

A embaixada de facto dos EUA em Taiwan disse no domingo que Washington está a acompanhar os exercícios chineses e que se sente “confortável e confiante” de que tem recursos e capacidades suficientes para garantir a paz e a estabilidade na região.

Os canais de comunicação entre os EUA e a China permanecem abertos e os norte-americanos têm apelado consistentemente à contenção e opõem-se a mudanças no ‘statu quo’, disse um porta-voz do Instituto Americano de Taiwan, que funciona como uma embaixada perante a ausência de relações diplomáticas formais.

Washington cortou relações diplomáticas com Taipé para encetar laços com Pequim em 1979, mas está vinculado por lei a fornecer à ilha os meios para se defender. A China, que nunca renunciou ao uso da força para retomar o controlo sobre a ilha, diz que Taiwan é o assunto mais importante e sensível nas suas relações com os EUA, e é frequente que o tema seja fonte de tensão.

Pequim diz que Tsai é uma separatista e tem recusado os seus apelos para conversações. Tsai defende que cabe apenas ao povo de Taiwan a decisão sobre o seu futuro.

Nos últimos três anos, a China intensificou a pressão militar contra Taiwan, organizando várias missões aéreas perto da ilha, embora não invadindo o seu espaço aéreo ou sobrevoando o seu território.

O Ministério da Defesa de Taiwan disse no domingo que nas 24 horas anteriores foram detetados 71 aeronaves da Força Aérea chinesa e nove navios. O ministério divulgou um mapa que mostrava metade dos aviões, incluindo Su-30 e J-11, a atravessar a linha mediana no estreito.

Os meios de comunicação estatais chineses disseram que os aviões estavam armados com munições reais. Os caças da Força Aérea de Taiwan geralmente transportam armas reais quando intercetam as incursões chinesas.

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.