Pela primeira vez, cientistas observaram centopeias carnívoras a comer aves marinhas (e mostraram que podem comer mais de 3700 por ano).
De acordo com o site Live Science, estas centopeias – Cormocephalus coynei – vivem na Ilha Phillip, perto da costa sul da Austrália, podem ter até 30 centímetros de comprimento e usam um veneno potente para caçar as suas vítimas.
Agora, um novo estudo mostra que, ao caçarem todos os anos milhares de bebés da ave marinha Pterodroma nigripennis (também conhecida como grazina de asas pretas), estas centopeias são os predadores indiscutíveis da ilha e uma parte vital do seu ecossistema.
“Num certo sentido, elas tomaram o lugar (ou o nicho ecológico) de mamíferos predadores, que estão ausentes desta ilha”, escreveram os investigadores no The Conversation.
À medida que a noite cai, explica o mesmo site, as centopeias emergem dos seus covis para caçarem as suas vítimas, recorrendo a duas antenas sensíveis. Como as grazinas de asas pretas constroem tocas no solo, as suas crias são os principais alvos.
Então, as centopeias atacam quando estas crias estão a descansar, raspando-lhes carne da parte de trás do pescoço, injetando-lhes o veneno mortal e comendo-as vivas enquanto a paralisia se instala no seu corpo.
Ao observar estas centopeias enquanto caçam, e analisando amostras de tecido recolhidas das suas mandíbulas e dos restos mortais das suas vítimas, os cientistas estimaram que consomem cerca de 2109 a 3724 crias por ano.
De acordo com a equipa, este estudo, publicado a 3 de agosto na revista científica The American Naturalist, marca a primeira ocorrência relatada de centopeias a caçar aves marinhas. Além disso, também foram vistas a comer lagartixas, escíncidos, grilos e até peixes mortos.
Segundo o Live Science, por mais arrepiante que seja, o apetite voraz destas centopeias é realmente vital para o ecossistema da ilha, trazendo nutrientes do mar (onde os pássaros caçam a sua comida) para a terra e tornando-as cruciais para o recrescimento da vegetação.
Isto porque a ilha foi largamente destruída quando, em 1788, os humanos a decidiram transformar numa colónia penal, introduzindo porcos, cabras e coelhos que acabaram por destruir a sua vegetação.
No início do século XX, os porcos e as cabras foram retirados e, desde os anos 80, os esforços de conservação eliminaram os restantes coelhos, permitindo que as populações de aves marinhas e centopeias recuperassem. Atualmente, a ecologia da ilha já voltou ao normal e está a florescer.