No campo de batalha, estas células foram concebidas para perder. E assim se protege um embrião

Sergio Bondanza, Francesca La Mantia / CMR Unimore

Uma equipa de cientistas descobriu um novo tipo de célula embrionária humana, que parece ter sido concebida para proteger o embrião. No fundo, atua como uma medida de controlo de qualidade, assegurando que as células danificadas são eliminadas.

Apesar de cada um de nós ser constituído por inúmeras células, esta viagem começa com uma única que se divide repetidamente. Numa análise da atividade genética de embriões com 5 dias de idade, uma equipa de cientistas foi surpreendida com a descoberta de células que não correspondiam aos perfis padrão.

Segundo o Science Alert, contêm “genes saltitantes” ativos (ou transposões), pedaços de ADN que conseguem copiar-se a si próprios, deslocar-se e inserir-se novamente no genoma, podendo causar estragos pelo caminho. O mais curioso é que, quando estes danos ocorrem, as células autodestruem-se.

“Se uma célula for danificada pelos genes saltitantes – ou por qualquer outro tipo de falha, como ter cromossomas a menos ou a mais – o melhor é que o embrião elimine essas células e não permita que façam parte do bebé em desenvolvimento”, começou por explicar o geneticista evolutivo Laurence Hurst, da Universidade de Bath, no Reino Unido.

Por outras palavras, estas novas células estão deliberadamente configuradas para perder numa batalha, sacrificando-se para dar prioridade às células mais saudáveis.

Os cientistas batizaram-nas com o nome “REject“, não só porque acabam por ser rejeitadas, como também por apresentarem RetroElements, um tipo específico de gene saltitante.

Este novo estudo, publicado PLOS Biology, revelou que, cinco dias após a fertilização, cerca de um quarto das células são células REject.

Mas o que acontece às células REject que ficam para trás? De acordo com a investigação, conseguem suprimir os seus genes saltitantes ativos, não tendo as mesmas rotinas de autodestruição incorporadas. Porque e como acontece este fenómeno serão, certamente, temas-alvo de estudos futuros.

“Estamos habituados à ideia de que a seleção natural favorece um organismo em detrimento de outro”, disse Hurst. “O que estamos a observar nos embriões também se assemelha à sobrevivência do mais apto, mas desta vez entre células quase idênticas. Parece que descobrimos uma nova parte do nosso arsenal contra estes componentes genéticos nocivos.”

A investigação está ainda numa fase inicial, mas a equipa sugere que uma das diferenças entre uma gravidez bem sucedida e uma gravidez mal sucedida pode ser a forma como estas células REject se comportam ou a sensibilidade do embrião às suas mensagens.

Liliana Malainho, ZAP //

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