Os casais “DINK” estão a tomar conta do TikTok (e são as relações do futuro)

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Há cada vez mais casais em que ambos trabalham e optam por não ter filhos, conhecidos como DINKs. A tendência não dá sinais de abrandar.

Nos últimos anos, os canais familiares ganharam imensa popularidade no YouTube e as “momfluencers” acumularam milhares e milhares de seguidores ao partilharem o dia-a-dia da maternidade e as suas dicas para outros pais.

Mas agora a tendência está a mudar e são os casais “DINK” — Dual Income, No Kids — casados, ambos a trabalhar e sem filhos, que estão a tomar conta do TikTok. O termo não é novo e a geração boomer já usava a palavra há decadas. O que é novo, no entanto, é a opinião da sociedade dos DINKs, e há cada vez mais pessoas a abraçar este estilo de vida.

Os vídeos com a hashtag #DINK já acumulam quase 200 milhões de visualizações e celebram as vantagens de não ter filhos, desde a maior quantidade de dinheiro disponível à liberdade para viajar quando se quer sem responsabilidades adicionais. Há também um submovimento para os amantes de cães, os DINKWAD — Dual Income, No Kids With A Dog.

Kate Anderson é uma das principais criadoras de conteúdos DINK no TikTok e já soma mais de 100 mil seguidores e 4,4 milhões de gostos nos seus vídeos. A criadora de 30 anos explica à Time que começou a partilhar os bastidores da sua vida com o marido para ajudar outros casais que sintam pressão para ter filhos.

“Há muita discussão sobre outras opções de estilo de vida disponíveis para casais recém-casados. Fiquei muito supreendida com o quão inspirador muitas pessoas o acham. Eles dizem-me ‘sim, isso é a minha vida de sonho‘”, revela.

Ao mesmo tempo, a influenciadora diz que já recebeu mensagens de pais que defendem que conseguem ter um estilo de vida semelhante com os filhos ou que consideram que os DINKs são materialistas.

“Eu nunca quero fazer conteúdos que façam os pais sentir-se mal por terem filhos. Não há nada de errado com ter filhos e o estilo de vida DINK não é superior. As pessoas devem ter a liberdade de escolher o querem. Só quero normalizar este tipo de relação”, afirma.

Delanie Fischer, que é uma DINK juntamente com o marido, salienta a “quantidade tremenda de liberdade” e de energia que não ter filhos lhe dá. “Quando fomos honestos sobre a nossa vida ideal juntos no futuro, nada das coisas que referimos incluia ter filhos”, explica ao PopSugar.

“As únicas barreiras que já enfrentamos é em situações sociais, quando as pessoas nos perguntam quando vamos ter filhos e ficam muito confusas quando lhes dizemos que não vamos ter nenhuns. Eles pensam que odíamos crianças, que nos vamos arrepender, que não sabemos o que é o amor verdadeiro, que a nossa vida não tem sentido. Mas tomamos decisão com base no que queremos, não no que os outros querem para nós. Também respeitamos o compromisso e responsabilidade de quem tem filhos, mas sabemos que isso não é para nós”, afirma.

Lá por não terem os encargos financeiros com filhos, isso não quer dizer que os DINKs não tenham de criar orçamentos e planos financeiros. Alguns detalhes a considerar incluem as menores deduções fiscais ou quem serão os herdeiros dos seus bens.

Anderson explica regularmente aos seus seguidores que a gestão financeira é tão necessária para os casais sem filhos como para os casais com crianças. “Sim, até os DINKs fazem orçamentos”, explica a criadora num vídeo sobre as suas poupanças com o marido para as obras em casa.

O futuro é dos DINKs?

O fenómeno do aumento dos casais que escolhem não ter filhos parece ter vindo para ficar. Se há factores conjunturais que explicam por que é que há tantos casais sem filhos, como as dificuldades financeiras ou os preços das casas, há também muitas mudanças estruturais que têm como consequência a quebra da natalidade.

O surgimento dos métodos contraceptivos, que nos permitem agora fazer um planeamento familiar, ou a maior liberdade das mulheres, que podem agora ser independentes e não estão reduzidas ao papel de donas de casa, são duas das principais razões para esta tendência que se verifica por todo o Ocidente.

A mudança de atitude sobre o papel social das crianças e sobre as responsabilidades dos pais para com elas também é fundamental — se até meados do século XX ainda era a norma ver crianças a abandonar a escola e ir trabalhar, hoje em dia o trabalho infantil é ilegal e reprovado socialmente, pelo que os filhos são encarados como uma fonte de despesa, não de rendimento.

Tudo isto tem levado a que os casais tenham menos filhos ou que simplesmente escolham nunca os ter, independentemente da sua situação financeira ou pessoal. O estilo de vida sem crianças também já não é tão ostracizado socialmente, havendo mais liberdade para que as pessoas que não querem ser pais optem por não o ser, não sentido tanta pressão para se conformarem à norma.

A chamada “bomba demográfica” nos países ricos está também a chegar aos países mais pobres e com taxas de natalidade mais altas, à medida que estes se desenvolvem. Podem os DINKs ser assim as relações do futuro?

Em Portugal, por exemplo, um estudo recente do INE concluiu que 10% dos portugueses em idade fértil não têm nem ambicionam ter filhos, uma subida face aos 8,6% registados em 2013. A principal razão? Simplesmente a falta de vontade — 77% dos homens e 78% das mulheres apontam este como o principal factor.

“O contraceptivo mais eficaz de todos é o desenvolvimento”, explica a socióloga Maria João Valente Rosa ao Público, que considera que, mesmo com programas económicos de estímulo à natalidade, “não é expectável que Portugal possa ambicionar voltar a garantir a reposição das gerações”.

A especialista acrescenta que há cada vez mais pessoas que não têm filhos porque “pura e simplesmente, não sentem qualquer empatia com o facto de se ser mãe ou pai” e refere ainda que pode haver um “contágio social” resultante “da partilha de experiências com amigos, familiares ou colegas que, quando tiveram filhos, deixaram de ter tempo para outras realizações”.

Adriana Peixoto, ZAP //

11 Comments

  1. Esta cultura de individualismo cool e instagramável é muito gira, mas a longo prazo é uma desgraça, mesmo para os DINKS, que não vão ter quem trabalhe para receberem as suas reformas. A sociedade está a mudar como sempre aconteceu ao longo das gerações, é possível que haja adaptações que permitam viver-se assim, mas por enquanto, não estou a ver como.

  2. Pelo andar que isto leva, daqui a 20 ou 30 anos além da catástrofe demográfica, teremos outras, incluindo o desaparecimento de países como Portugal ou o seu sequestro nas mãos de uma minoria aguerrida.
    Nessa altura, os DINKS sem cérebro e outros grupos de gente fútil vão passar fome e maus tratos. Só vão colher o que estão a semear.

    • E é o que está a acontecer em toda a Europa. Se não fossem os imigrantes ninguém trabalharia na construção, nos lares, nas creches, nas limpezas, na restauração, na hotelaria, em muita indústria… E neste momento há pelo menos 4 países em que os chefes de estado são de origem indiana. Na Europa preferem não ter filhos de modo que têm de vir jovens de outras partes do mundo. Não há volta a dar.

      • Muitos serviços em breve não precisarão de humanos. As máquinas farão em geral a maioria das tarefas. Isto se quisermos continuar a ter populações nativas europeias! Cada vez o Ocidente arrisca -se a ser uma colónia de povos vindo de zonas subdesenvolvidas e com fraca atracção por Direitos Humanos. Esse é p problema principal.

    • E já não trabalham apenas a servir à mesa, a fazer camas e na construção civil. Pelo menos 4 países da Europa têm à sua frente descendentes de indianos.

    • O problema está nos locais onde existem super-populações! Nesses locais: China, Índia, África e América do Sul, as populações crescem descontroladamente! Nos 10 países o de cresce mais a população só um é Ocidental: os EUA., que além deste fenómeno têm a migração crescente a cada ano. Na Europa a migração cada vez mais agressiva e impositiva vai crescendo. As nossas populações é que vão diminuindo.

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