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Cabelo crespo proibido em escolas de Luanda. “É uma forma de apartheid”

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Ampe Rogério / Lusa

Cabelo crespo proibido em escolas de Luanda, Angola.

Cabelo crespo proibido em escolas de Luanda, Angola.

O início do ano lectivo em Luanda, Angola, arrancou com polémica, uma vez que alguns alunos de escolas privadas e públicas foram impedidos de assistir às aulas devido aos seus cortes de cabelo crespos. A socióloga angolana Luzia Moniz diz que a proibição é “uma forma de ‘apartheid’”.

As medidas impostas são “piores do que as do colonizador e a sua política de assimilação”, lamenta a socióloga angolana em declarações à Lusa.

Em causa está a proibição da entrada de alunos em salas de aulas de algumas escolas devido ao uso de cabelo crespo ou de penteados compridos, no caso dos rapazes.

“Estes impedimentos são actos de repressão cultural típicos de situações de endocolonialismo, que é o caso de Angola, onde o opressor usa os estabelecimentos de ensino como uma espécie de ‘polícia dos costumes’, que existe em países como o Irão”, argumenta a socióloga.

O Ministério da Educação de Angola já teve que intervir, orientando as direcções dos estabelecimentos de ensino a “respeitar a diferença”.

Detidos em protestos contra corte obrigatório de cabelo

O corte obrigatório de cabelo nas escolas angolanas é uma polémica antiga, mas que persiste.

Entretanto, foi criada uma petição pública “contra a proibição do cabelo natural nas instituições de ensino de Angola”.

Também há rumores de que alguns jovens “foram detidos pela polícia quando tentavam marchar contra o corte obrigatório do cabelo”. Alguns jornalistas que cobriam o protesto também terão sido detidos.

Penteados impostos visam “desafricanização”

Luzia Moniz considera que estas medidas quanto aos penteados dos alunos são “piores do que as do colonizador e a sua política de assimilação”.

A socióloga salienta que “se enquadram no processo de desafricanização de Angola, encetada pelas elites políticas angolanas, visando eliminar ou subjugar os valores identitários africanos”.

As consequências dessas medidas não se reflectem apenas nas pessoas directamente visadas, mas em toda a sociedade, porque se está perante “uma violação dos direitos humanos”.

“O direito básico de sermos nós próprios, com os nossos cabelos, narizes, lábios. O direito a não termos vergonha de sermos pretos e assumirmos essa ‘pretitude’ em toda a sua dimensão. O cabelo é uma dessas dimensões”, sublinha.

A também activista cultural realça que “nada distingue mais os indivíduos em termos de grupo étnico-racial do que o cabelo”.

“Num país em que seguramente mais de 90% da população é constituída por pretos, proibir jovens pretos de usarem o seu próprio cabelo é discriminação racial, uma forma de apartheid que afecta os discriminados, mas toda a sociedade”, vinca.

A solução para este problema passa por pressionar os políticos (poder e oposição) “no sentido da mudança dessas normas fascistas”, considera a socióloga.

E se for “necessário”, Luzia Moniz admite o recurso “a instâncias regionais e internacionais como a Comunidade de Desenvolvimento de Países da África Austral, a União Africana ou o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos”.

ZAP // Lusa

10 Comments

    • Gostei que usasse o termo “pretos” e não “negros”. Afinal os brancos, são brancos e não claros. Tenho alguns amigos pretos e é assim que sempre me ensinaram que eu deveria dizer. Eles sentem-se mais desconfortáveis com o termo negro. Dizem que dá a sensação que isso é usado para não ofender, como se ser preto fosse algo negativo, ofensivo.

  1. Outra coisa : qual a diferença de ser obrigatório a cumprir determinado critério de cabelo ou vestir
    se já existem e existiram critérios desses em colegios e entre brancos ?
    Até no serviço militar é agora discriminação ?

  2. Antes de falarmos à toa e colocarmos logo racismo em tudo, numa lógica de vitimizaão absurda e sem sentido, vão aqui aos nossos irmãos do Sul e vejam como se vai para a escola ou até para a universidade. Como as meninas vão sem penteados de tipo “modelo retirado das novelas brasileiras” e os rapazes vão de cabelo curto. Depois comparem a qualidade da educação e da formação académica dos nossos irmãos e vizinhos com a nossa.
    Quando estivermos perto da qualidade e organização da educação deles, podemos falar de cabelo, ok!
    Nunca vi nenhuma criança namibiana a ir com um banquinho de plástico à cabeça para poder ter onde se sentar na aula…
    Isso sim é que nos devía preocupar, motivar.
    Educar bem, com qualidade, ensinar valores e respeito pelos outros.

  3. Em Portugal, nos anos 60, eu e muitos outros, fomos alvos de críticas e admoestações por causa do cabelo à beatle e isso nunca foi uma questão racista, mas sim, de atentado aos “bons costumes” instituídos. Em Angola não será algo parecido?

  4. Isso é absurdo, e nem deveria ser assunto mais nesse tempo
    Até chegarem a prender manifestantes? Esse polícia está doente sempre a receberem ordens superiores?
    Deus nos acuda.

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