Mistério com 90 anos resolvido. As cabeças dos cometas podem ser verdes, mas as caudas nunca

Patrick Prokop / HeavenlyBackyardAstronomy

O cometa Leonard fotografado a 1 de dezembro, em Savannah, Estados Unidos

Quando atravessam o céu, os cometas passam por uma metamorfose colorida. As “cabeças” destes corpos celestes tornam-se esverdeadas e cada vez mais brilhantes à medida que se aproximam do Sol, mas, estranhamente, a tonalidade desaparece antes de atingir a cauda.

O mistério tem intrigado os cientistas há quase um século.

Na década de 1930, o físico Gerhard Herzberg encontrou uma explicação para o fenómeno: segundo o especialista, deve-se à luz solar que “destrói” o carbono diatómico (também conhecido como dicarbono ou C2), criado a partir da interação entre a luz solar e a matéria orgânica na “cabeça” do cometa.

A teoria tem sido muito difícil de comprovar, uma vez que o químico não é estável. Agora, um novo estudo, cujo artigo científico foi publicado este mês na Proceedings of the National Academy of Sciences, conseguiu finalmente essa proeza e concluiu que a teoria está correta.

“Provámos o mecanismo pelo qual o dicarbono é destruído pela luz solar”, afirmou Timothy Schmidt, professor de Química na Universidade de New South Wales, citado pelo SciTechDaily. “Isto explica porque é que a coma verde – a camada de gás e poeira que envolve o núcleo – encolhe à medida que um cometa se aproxima do Sol e também porque é que a cauda do cometa não é verde.”

Fotodissociação na Terra

O cabono diatómico – como o próprio nome indica – é composto por dois átomos de carbono e encontrado em ambientes extremamente energéticos ou de baixo oxigénio, como estrelas, cometas e o meio interestelar.

Não existe nos cometas até que se aproximem da nossa estrela.

Quando o Sol começa a aquecer o cometa, a matéria orgânica do núcleo congelado evapora e vai para a coma. A luz solar é a responsável por “destruir” essas moléculas orgânicas maiores, criando assim o carbono diatómico.

Com a ajuda de uma câmara de vácuo, lasers e uma poderosa reação cósmica, os cientistas mostraram que, à medida que o cometa se aproxima ainda mais do Sol, a radiação ultravioleta extrema “destrói” as moléculas de carbono diatómico que criou recentemente.

O processo, denominado fotodissociação, destrói o dicarbono antes de se afastar do núcleo, fazendo com que a coma verde se torne mais brilhante e reduza de tamanho antes mesmo de o tom esverdeado alcançar a cauda.

A equipa demorou cerca de 9 meses até conseguir realizar a primeira observação. Para isso foi preciso recriar o mesmo processo químico galáctico, na primeira vez que esta interação foi estudada aqui na Terra.

O esforço científico valeu a pena, pondo um ponto final num mistério com 90 anos. A teoria de Herzberg foi confirmada e, agora sim, podemos afirmar com toda a certeza que, mesmo que o dicarbono faça a cabeça do cometa brilhar em tons de verde, o mesmo não acontecerá com a sua cauda.

ZAP //

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