Autoria de uma das jóias mais importantes do tesouro real posta em causa

Art Library Fundação Calouste Gulbenkian / Flickr

Insígnia da Ordem do Tosão de Ouro

Uma nova investigação põe em causa a autoria de uma das joias mais importantes do tesouro real português, a insígnia da Ordem do Tosão de Ouro.

A insígnia da Ordem do Tosão de Ouro tem 1.700 diamantes com um total de 300 quilates, 190 rubis e uma safira com quase 36 quilates, que veio substituir o doublet original após ser restaurada em 1951.

É uma das estrelas da exposição do Museu do Tesouro Nacional, que abre portas esta quarta-feira, no Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa. O novo museu nacional funciona dentro de uma caixa-forte com alta segurança e conta com mil joias da coroa portuguesa.

A joia com 27 cm de altura que foi encomendada pelo príncipe regente D. João, futuro D. João VI.

“É uma joia a todos os níveis notável. É a maior insígnia desta ordem existente no mundo, tanto em tamanho como em opulência”, diz João Júlio Rumsey Teixeira, um dos comissários da atual exposição do museu, em declarações ao Público.

“Sempre lhe foi dada a devida importância, mas hoje temos de pôr em causa parte do que foi escrito sobre ela no único catálogo da coleção real que temos, o de 1991″, acrescentou.

Palácio Nacional da Ajuda

Insígnia da Ordem do Tosão de Ouro.

O especialista em joias antigas argumenta que a insígnia em questão tem um autor e uma data de execução diferentes dos que até aqui eram tidos como certos.

Rumsey Teixeira consultou documentos que oferecem uma visão diferente da história de insígnia. Esta questão foi alvo de um artigo da sua autoria publicado na revista científica Jewellery Studies.

Até agora, acreditava-se que o Tosão de Ouro de D. João VI tinha sido criado em 1790 pelo joalheiro e ourives David Ambrósio Pollet. Julgava-se ter sido um presente de aniversário para o jovem príncipe.

A autoria da joia é atribuída a Pollet devido a uma fatura em que descreve minuciosamente a insígnia executada.

Através da análise desta fatura, João Júlio Rumsey Teixeira concluiu que esta diz respeito à encomenda de uma insígnia da mesma ordem militar, mas significativamente mais pequena.

“O Tosão de Ouro da fatura do Pollet pesa quase dez vezes menos do que este”, explica o especialista.

“Se fosse de 1790, como até aqui se acreditava, não faria sentido que para a fazer se desmontasse uma insígnia criada pela rainha no ano anterior. Toda a documentação aponta para uma encomenda feita em 1800 e, se for assim, não podia ser com Pollet, afastado do palácio anos antes”, acrescentou.

Por enquanto, Rumsey Teixeira não sabe quem é o autor da joia, mas considera que Carlos José van Nes e José Luís da Silva são duas fortes hipóteses. Ambos eram importantes fornecedores de joias da casa real no começo do século XIX.

ZAP //

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