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“Atropelamento e fuga.” Terra e Vénus cresceram como planetas rebeldes

Paris Observatory / VR2Planets / ESA

Planetas como a Terra e Vénus, que residem dentro de Sistemas Solares, são fruto de repetidas colisões. Esta conclusão desafia os modelos convencionais sobre a formação de planetas.

Investigadores do Laboratório Lunar e Planetário (LPL) da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, desafiam a visão convencional sobre a formação de planetas ao propor um novo cenário de “atropelamento e fuga”, em que os corpos pré-planetários passaram uma boa parte da sua viagem através do Sistema Solar interno a colidir uns contra os outros.

“Descobrimos que a maioria dos impactos gigantes, mesmo os relativamente ‘lentos’, são de atropelamento e fuga. Isto significa que, para que dois planetas se fundam, é preciso primeiro atrasá-los numa colisão de atropelamento e fuga”, explicou Erik Asphaug, citado pelo Europa Press.

“Pensar em impactos gigantescos, como a formação da Lua, como um acontecimento singular, é provavelmente incorreto”, acrescentou.

Apesar de serem vizinhos, Vénus e Terra podem ter tido experiências muito diferentes de “crescimento”. Segundo os cientistas, a jovem Terra teria servido para abrandar os corpos planetários inter-relacionados, tornando-os mais propensos a colidir com Vénus e a juntar-se a ele.

No fundo, explicam em comunicado, o Sistema Solar é um poço de gravidade, sendo que quanto mais próximo um planeta está do Sol, mais forte é a gravidade que experimenta. É por isso que os planetas internos do Sistema Solar – Mercúrio, Vénus, Terra e Marte – orbitam o Sol mais rápido do que Júpiter, Saturno e Neptuno.

Como resultado, quanto mais próximo um objeto estiver do Sol, maior é a probabilidade de permanecer lá. Assim, “quando um planeta intruso atingiu a Terra, era menos provável que se agarrasse” ao nosso planeta. Em vez disso, o mais provável é que acabasse em Vénus.

A Terra atua como um escudo, proporcionando uma primeira paragem contra o impacto desses planetas. Muito provavelmente, um planeta que ‘salte’ da Terra vai atingir Vénus e fundir-se com ele”, detalhou Asphaug.

Uma bola a descer as escadas

O investigador Alexandre Emsenhuber usa a analogia de uma bola a descer umas escadas para explicar o fenómeno: um corpo vindo do Sistema Solar exterior é como uma bola a descer uma escada e cada salto representa uma colisão com outro corpo.

“No caminho, a bola perde energia e salta sempre para baixo, nunca para cima. Por causa disto, o corpo não pode sair do Sistema Solar interior. Normalmente, desce as escadas, em direção a Vénus, e um corpo que colide com Vénus fica bastante contente por permanecer no Sistema Solar interior, pelo que a dada altura voltará a atingir Vénus.”

A Terra não tem esse “dom” para desacelerar os planetas que vêm de fora. Por isso é que os dois planetas de tamanhos semelhantes são diferentes – algo que as teorias convencionais não conseguem explicar.

“A ideia predominante é que não importa se os planetas colidem e não se fundem de imediato, porque se voltarão a encontrar em algum momento para se fundirem depois”, disse Emsenhuber. “Mas não foi isso que descobrimos. Os planetas acabam por se tornar mais frequentemente parte de Vénus, em vez de voltarem à Terra. É mais fácil ir da Terra para Vénus do que o contrário.”

A investigação foi publicada este mês em dois estudos no The Planetary Science Journal, um com foco em Vénus e na Terra e o outro na Lua e na Terra.

ZAP //

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