Astrónomos estão a tentar dizer aos extraterrestres onde está a Terra

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Se uma pessoa se perde no deserto, tem duas opções. Pode procurar a civilização, ou pode tornar-se fácil de detetar. As duas soluções mais conhecidas são provocar um incêndio ou ao escrever “AJUDA” em letras grandes.

Para os cientistas interessados na questão da existência de vida alienígena inteligentes, as opções são muito semelhantes.

Durante mais de 70 anos, os astrónomos têm procurado sinais de rádio ou óticos de civilizações de inteligência extraterrestre, com um projeto chamado SETI.

A maioria dos cientistas está confiante de que existe vida em muitos dos 300 milhões de mundos, potencialmente habitáveis, na galáxia da Via Láctea.

Os astrónomos também pensam que existe a hipótese de algumas formas de vida terem desenvolvido inteligência e tecnologia. Mas nenhum sinal de outra civilização foi até hoje detetado — um mistério conhecido como “O Grande Silêncio”.

Enquanto SETI há muito que faz parte da ciência principal, METI, ou a inteligência extraterrestre de mensagens, tem sido menos comum.

Chris Impey, professor de astronomia e autor vários artigos sobre a procura de vida no Universo, explicou melhor à Science Alert que mensagens serão enviadas.

Nos próximos meses, duas equipas de astrónomos vão enviar mensagens para o Espaço, numa tentativa de comunicar com quaisquer alienígenas inteligentes que possam estar “lá fora” a ouvir.

Estes esforços são quase como construir uma grande fogueira numa floresta, e esperar que alguém nos encontre. Mas algumas pessoas questionam sobre se será sensato fazer algo deste género.

A história de METI

As primeiras tentativas de contactar a vida no Espaço foram realizadas quase como mensagens dentro de uma garrafa.

Em 1972, a NASA lançou a nave espacial Pioneer 10 em direção a Júpiter, com um desenho de um homem e uma mulher ,e símbolos para mostrar a origem da nave. Em 1977, enviaram o famoso Disco de Ouro, anexado à nave espacial Voyager 1.

 

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Desenho enviado pela Pioneer 10 da NASA, em 1972.

 

Estas naves — assim como as seus gémeas, Pioneer 11 e Voyager 2 — deixaram todos o Sistema Solar. Mas na imensidão do Espaço, as probabilidades de estes ou quaisquer outros objetos físicos serem encontrados são minúsculas. A radiação eletromagnética é um “farol” muito mais eficaz.

Os astrónomos transmitiram a primeira mensagem de rádio concebida para ouvidos alienígenas do Observatório Arecibo, em Porto Rico, em 1974.

A série de 1s e 0s foi criada para transmitir informações simples sobre a humanidade e biologia, e enviada para o aglomerado globular M13.

Uma vez que a M13 está a 25.000 anos-luz de distância, não vale a pena sustermos a respiração à espera de uma resposta.

Para além destas tentativas de envio de mensagens aos extraterrestres, há quase um século que os sinais de televisão e rádio têm vindo a “escorrer” para o espaço. Esta bolha de tagarelice terrestre em constante expansão já atingiu milhões de estrelas.

Mas há uma grande diferença entre uma explosão concentrada de ondas de rádio de um telescópio gigante e uma fuga difusa — o fraco sinal de um programa como “I Love Lucy” desvanece-se abaixo do zumbido da radiação deixada pelo Big Bang, pouco depois de deixar o Sistema Solar.

Enviar novas mensagens

Quase meio século após a mensagem Arecibo, duas equipas internacionais de astrónomos estão a planear novas tentativas de comunicação alienígena.

Uma das equipas está a utilizar um novo radiotelescópio gigante, enquanto a outra está a escolher um novo alvo convincente.

Uma destas novas mensagens será enviada a partir do maior radiotelescópio do mundo, na China, algures em 2023.

O radiotelescópio, com um diâmetro de 500 metros, vai emitir uma série de impulsos de rádio sobre uma ampla faixa de céu.

A mensagem chama-se “The Beacon in the Galaxy” e inclui números primos e operadores matemáticos, a bioquímica da vida, formas humanas, a localização da Terra e uma noção de tempo.

A equipa está a enviar a mensagem para um grupo de milhões de estrelas perto do centro da galáxia Via Láctea, a cerca de 10.000 a 20.000 anos-luz da Terra.

Embora isto maximize o conjunto de potenciais alienígenas, significa que faltarão dezenas de milhares de anos para que a Terra possa obter uma resposta.

A outra tentativa visa apenas uma única estrela, mas com o potencial para uma resposta muito mais rápida.

A 4 de outubro de 2022, uma equipa da Estação Terrestre Satélite Goonhilly, em Inglaterra, irá transmitir uma mensagem em direção à estrela TRAPPIST-1.

Esta estrela tem sete planetas, três dos quais são mundos semelhantes à Terra na chamada “zona Goldilocks” — o que significa que podem ser o lar de água e psiivelmente vida, também.

A TRAPPIST-1 está apenas a 39 anos-luz de distância, pelo que pode demorar apenas 78 anos a receber a mensagem da Terra.

Questões éticas

A perspetiva de contacto com o “estrangeiro espacial” tem várias questões éticas a pairar, e o METI não é exceção.

A primeira é: Quem fala pela Terra? Na ausência de qualquer consulta internacional com o público, as decisões sobre que mensagem enviar e para onde a enviar estão nas mãos de um pequeno grupo de cientistas interessados.

Mas também há uma questão bem mais profunda. Se estiver perdido na floresta, ser encontrado é obviamente uma coisa boa. Quando se trata de saber se a humanidade deve transmitir uma mensagem a extraterrestres, a resposta é muito menos clara.

Antes da sua morte, o físico visionário Stephen Hawking falava abertamente sobre o perigo de contactar alienígenas com tecnologia superior.

Hawking argumentou que eles podiam ser malignos e, se dada a localização da Terra, podiam destruir a humanidade. Outros não vêm qualquer risco extra, uma vez que uma civilização verdadeiramente avançada já saberia da nossa existência.

E há interesse. O bilionário russo-israelita Yuri Milner ofereceu 1 milhão de dólares para a melhor conceção de uma nova mensagem e uma forma eficaz de a transmitir.

Até à data, nenhuma regulamentação internacional rege o METI, pelo que as experiências irão continuar, apesar das preocupações.

Mas por enquanto, os alienígenas inteligentes permanecem no reino da ficção científica. Livros como “The Three-Body Problem”, de Cixin Liu, oferecem perspetivas sombrias sobre como poderá ser o sucesso dos esforços METI. Não acaba bem para a humanidade, nos livros.

Se os humanos alguma vez conseguirem estabelecer contacto na vida real, esperemos que os alienígenas venham em paz

Alice Carqueja, ZAP //

4 Comments

    • Para quê?
      Para tentar responder a uma pergunta muito antiga: Estamos sozinhos no universo?
      Pessoalmente acho que não. Não estamos!

      Querem que eles venham para cá fazer turismo?
      Não me parece que numa primeira fase seja esse o interesse mas, porque não? Se pudesse, não gostava de ir ‘lá’ fazer turismo?

      E cobravam-lhes em que moeda?
      Conhecimento.
      Tecnologia.
      Elementos raros na terra.
      Elementos, desconhecidos na Terra.

      Espero ter respondido às suas questões.

      • Lembro-me de ter lido que alguém resolveu simular uma comunidade galáctica composta por três tipos de civilizações extraterrestrres: O tipo agressivo expansionista, o tipo discreto introvertido, e o tipo curioso amigável. Após correr a simulação diversas vezes, o resultado foi sempre o mesmo: Uma comunidade composta por uma única civilização super-poderosa do primeiro tipo, sobrevivente após destruir todas as civilizações que descobriu, e uma multidão silenciosa e discreta de civilizações do segundo tipo, onde de vez em quando aparece uma nova civilização do terceiro tipo que levanta a cabeça para espreitar e perguntar, sorridente: “Olá! Está alguém aí?”
        Desconheço os detalhes da simulação (e os detalhes são tudo!), portanto limito-me a contar isto como uma história curiosa…

  1. O Dodo também encontrou extraterrestres e veja o que lhes aconteceu
    Quem deu autorização aos ‘Astrónomos’ de nos representarem?

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