A noiva de Julian Assange disse, esta sexta-feira, que vai recorrer “o mais rápido possível” da decisão “injusta” de um tribunal de recurso britânico que pode permitir a extradição para os Estados Unidos do fundador do WikiLeaks.
Em comunicado, Stella Moris, mãe dos dois filhos mais novos do australiano, classificou a decisão de “perigosa e errada” e ainda como “uma grande injustiça”.
Moris e Assange receberam recentemente autorização para se casarem na prisão de Belmarsh, em Londres, onde o fundador do WikiLeaks está em prisão preventiva, noticia a agência EFE.
Esta sexta-feira, um tribunal de recurso britânico abriu a porta à extradição do fundador do portal WikiLeaks para os Estados Unidos para enfrentar acusações de espionagem, revogando a decisão de um tribunal inferior.
O Tribunal Superior de Londres decidiu que as garantias dadas pelos Estados Unidos eram suficientes para assegurar que Assange será tratado com humanidade e ordenou ao juiz de primeira instância para que envie o pedido de extradição à ministra do Interior britânica para ser avaliado.
Após a decisão do Tribunal Superior [High Court] de Londres, cabe agora à ministra do Interior, Priti Patel, supervisionar a aplicação da lei no Reino Unido e tomar a decisão final sobre a extradição.
O advogado de Assange nos Estados Unidos, Barry J. Pollack, considerou a decisão divulgada como “altamente perturbadora”, alegando que os norte-americanos planearam sequestrar e assassinar o seu cliente.
“O tribunal do Reino Unido chegou a esta decisão sem considerar se a extradição é apropriada quando os Estados Unidos estão a mover acusações contra Assange que podem resultar em décadas de prisão, com base no facto de ele ter relevado informações verdadeiras sobre temas importantes, como as guerras no Iraque e no Afeganistão”, frisou.
Também o Governo de Cuba reagiu à decisão, acusando os Estados Unidos de procurarem “vingança e punição” ao quererem julgar o australiano que denunciou abusos de Washington nas guerras do Iraque ou Afeganistão.
Os Estados Unidos “pretendem servir de exemplo contra quem denuncia a sua conduta criminosa, o que terá graves consequências para o jornalismo e a liberdade de expressão”, sustentou o ministro dos Negócios Estrangeiros cubano, Bruno Rodríguez.
Já a Rússia classificou a decisão da justiça britânica como “vergonhosa”, perante um “caso político”.
“Esta decisão (…) contra um jornalista e uma figura pública é mais uma ilustração da visão canibalesca do mundo pelos predadores anglo-saxónicos”, atirou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova.
A assessora salientou com ironia, através da rede social Telegram, que o ocidente “celebrou com dignidade o Dia Internacional dos Direitos Humanos e a ‘cimeira pela democracia'”, em referência à conferência virtual sobre o tema organizada pelo Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
“Apoiamos [Assange] pelas perigosas implicações que este caso pode ter no mundo, para o futuro do jornalismo e da liberdade de imprensa”, alertou o secretário-geral do RSF, Christophe Deloire, em comunicado.
“Caso se mantenham [as acusações], este caso vai prejudicar o papel fundamental dos jornalistas e editores em escrutinar Governos e expor as suas falhas”, referiu.
O responsável da Amnistia Internacional para a Europa, Nils Muiznieks, apontou que a acusação representa “uma grave ameaça à liberdade de imprensa quer nos Estados Unidos, quer no estrangeiro.
Os Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também repudiaram a decisão lembrando que Assange “tem sido alvo pela sua contribuição para o jornalismo”.
A justiça norte-americana quer julgar o australiano por este ter divulgado, desde 2010, mais de 700 mil documentos confidenciais sobre atividades militares e diplomáticas dos EUA, principalmente no Iraque e no Afeganistão.
Os procuradores públicos dos EUA indiciaram Assange por 17 acusações de espionagem e uma acusação de uso indevido de computador devido à publicação através do WikiLeaks dos documentos classificados. As acusações acarretam uma pena máxima de 175 anos de prisão.
Assange, de 50 anos, está atualmente detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh em Londres.
Antes, o fundador do WikiLeaks esteve refugiado durante sete anos na Embaixada do Equador em Londres, de 2012 até abril de 2019, quando as autoridades equatorianas decidiram retirar o direito de asilo concedido e as autoridades britânicas o detiveram.
// Lusa