A origem das pirâmides do Egito, uma das obras arquitetónicas mais icónicas no mundo, é cada vez menos misteriosa. Mas os métodos utilizados pelos antigos surpreendem na mesma, pela complexidade que tinham para a época.
São cerca de 2,3 milhões de blocos de pedra, cada um com peso entre 2,5 e 15 toneladas, empilhados a uma altura impressionante há mais de 4 mil anos. A maior, a Grande Pirâmide de Gizé, tinha originalmente 147 metros de altura.
“Ainda há um debate entre os cientistas sobre o método exato para elevar estes blocos pesados a alturas tão grandes”, diz Eman Ghoneim, professor da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, citado pela Science Focus.
Mas, desde há uns anos para cá, tem-se feito luz, ou pelo há um caminho apontado por Roland Enmarch, professor catedrático de Egiptologia na Universidade de Liverpool: rampas.
O investigador e a sua equipa fizeram uma descoberta importante ao encontrarem uma rampa cortada na rocha numa pedreira em Hatnub, no deserto oriental do Egito, que servia como uma fonte importante de alabastro utilizado nas pirâmides.
A inclinação da rampa era maior do que o esperado: mais de 20% (as estimativas anteriores sugeriam que as rampas no Antigo Egito não ultrapassavam os 10%). A equipa estava a estudar inscrições na pedreira que datam da época da construção da Grande Pirâmide, sugerindo que uma rampa semelhante poderia ter sido utilizada na sua construção.
“Se não se tem uma rampa muito íngreme, então é necessária uma rampa de proporções tão grandes para chegar ao topo da Grande Pirâmide que seria um feito de engenharia maior do que construir a própria pirâmide”, diz Enmarch.
Frank Müller-Römer, arqueólogo do Instituto de Egiptologia e Coptologia de Munique, desenvolveu uma teoria sobre a forma como as pirâmides foram erguidas, que tem em conta o tempo de construção (que no caso da Grande Pirâmide não terá ultrapassado 20 anos), as ferramentas e os métodos de construção disponíveis na altura e os princípios de engenharia.
Foram propostos diferentes desenhos de rampas, tais como uma forma em espiral, rampas retas que sobem por cada lado ou caminhos inclinados no interior. No entanto, Müller-Römer acredita que várias rampas, dispostas ao longo do exterior da estrutura, teriam sido utilizadas nos quatro lados.
“A minha teoria oferece uma solução coerente para a construção das pirâmides no mais curto espaço de tempo possível“, garante.
Esta teoria não exclui a utilização de outros instrumentos, como alavancas, guindastes e roldanas. Houve mesmo quem propusesse que os egípcios utilizaram um sistema de elevação hidráulica, como sugeriu um estudo deste ano liderado por Xavier Landreau e publicado na Plos One.
Agora, o professor Eman Ghoneim e uma equipa de investigadores focou-se em perceber como eram transportados para o local das pirâmides tanto os trabalhadores como os materiais.
Através de imagens satélite, descobriram um antigo braço do Nilo com 64 quilómetros de comprimento. Segmentos deste rio ladeiam 31 pirâmides, o que sugere que estavam ativos durante a construção das pirâmides.
A nossa descoberta dá-nos uma ideia do método de transporte dos blocos maciços utilizados nas pirâmides”, diz Ghonheim.
“Com o tempo, o rio Nilo deslocou-se e os braços desapareceram porque assorearam. Ainda há uma área nos cursos superior e inferior que precisa de ser cartografada e é isso que procuramos agora”, diz. “Ainda não temos o quadro completo”.
Entre 2011 e 2013, Pierre Tallet, professor de Egiptologia na Universidade de Paris-Sorbonne, e a sua equipa encontraram fragmentos de papiros de diários de bordo que detalhavam as atividades dos trabalhadores da Grande Pirâmide de Gizé, em Wadi al-Jarf, perto das margens do Mar Vermelho.
Enmarch considera que estes documentos são a descoberta mais importante dos seus 30 anos de carreira no estudo do Antigo Egito, uma vez que dissipam as teorias mais estranhas, como a do envolvimento de extraterrestres.
“Demonstram que se tratou de um grande empreendimento logístico, mas também de um projeto de construção“, afirma.
“Nas últimas décadas, temos vindo a ter uma ideia cada vez melhor do que se deve ter passado”, diz. “Estou certo de que os arqueólogos vão continuar a encontrar coisas realmente fascinantes”, conclui