Foi aprovado nos EUA o Abilify MyCite, o primeiro comprimido digital que garante a toma da medicação. Composto por comprimidos com sensores, um adesivo digital e uma aplicação móvel, o fármaco destina-se ao tratamento da esquizofrenia.
A Food and Drugs Administration, organismo regulador que vigia os medicamentos dos Estados Unidos, aprovou esta segunda-feira o primeiro comprimido digital. Chama-se Abilify MyCite e é o primeiro comprimido monitorizado que permite averiguar se os pacientes tomam a medicação e a que horas.
Os Abilify MyCite são comprimidos de aripiprazol para tratamento de esquizofrenia, que têm um pequeno sensor feito de silicone, cobre e magnésio, embebido no comprimido, que permite saber se foi ingerido.
O paciente ingere o comprimido e este, algum tempo depois e graças à ação do suco gástrico, ativa um sinal elétrico. O sensor envia a informação para um “penso-recetor“, previamente colado na zona das costelas do paciente, e este envia a informação via bluetooth para uma aplicação móvel.
O doente tem assim acesso à hora a que o comprimido foi tomado e à dosagem, e pode ainda autorizar o médico a consultar a informação sobre a toma do medicamento. O adesivo deve ser substituído semanalmente e é capaz de registar os níveis de atividade, as horas dormidas, os passos dados e ainda o batimento cardíaco.
Ainda assim, a deteção da toma pode demorar entre 30 minutos a duas horas, razão pela qual a FDA alerta que o mecanismo em questão não deverá ser utilizado para controlar a toma em tempo real ou durante uma emergência, até porque em alguns casos a toma pode até não chegar a ser detetada.
À semelhança de qualquer outro medicamento, o Abilify MyCite pode também causar efeitos secundários como “náuseas, vómitos, prisão de ventre, dores de cabeça, tonturas, falta de controlo nos movimentos, ansiedade, insónia e inquietação”, lê-se no comunicado divulgado pela FDA.
Depois de o comprimido ser lançado no mercado no próximo ano, a comunidade médica, ainda reticente, irá comprovar se esta nova tecnologia ajuda a garantir que a toma da medicação é realmente cumprida.
No entanto, nem todos podem tomar o Abilify MyCite, que não é recomendado a idosos com demência e doentes com alucinações, que podem sentir-se perseguidos por este sistema. Assim, é aconselhado que os profissionais de saúde façam um diagnóstico ao doente para averiguar se é capaz de o gerir.
O comprimido é o resultado de anos de investigação da farmacêutica japonesa Otsuka, que já vendia o medicamento Abilify desde 2002, e da empresa norte-americana Proteus Digital Health, responsável pela criação do sensor e do adesivo.
O Abilify MyCite surge da necessidade de assegurar que os doentes seguem o tratamento. Segundo o The New York Times, o não cumprimento da toma de medicamentos prescritos nos Estados Unidos tem um custo de cerca de 85,7 mil milhões de euros anuais, em boa parte porque o paciente volta a precisar de novos tratamentos e medicamentos.
ZAP // FDA / The New York Times