Acabou a pandemia (e voltou a vontade de ter encontros físicos)

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A postura descomprometida ou a necessidade de validação de alguns utilizadores das aplicações de encontros têm afastado outros que olham para as plataformas como uma oportunidade de encontrar a alma gémea.

Durante os últimos dois anos, as pessoas que tinham a expectativa de encontrar um parceiro romântico depararam-se com dificuldades em conhecer pessoalmente a sua alma gémea.

As restrições e as incertezas motivadas pela pandemia tornaram os encontros sociais quase impossíveis – e até indesejáveis – levaram muitas pessoas a recorrer a aplicações de encontros.

No entanto, este meio não está livre de perigos ou até receios. Na realidade, as pessoas que sentem necessidade de recuperar algum do tempo perdido estão também ansiosas com o que (ou quem) podem encontrar nestas aplicações.

Por muitas dúvidas que se possa ter em relação às aplicações, os especialistas suspeitam também de outro fenómeno: a vontade – e até ansiedade – de as pessoas se encontrarem pessoalmente, daí que as próprias aplicações se estejam a adaptar para incluir esta possibilidade. Para além de aplicações como Tinder, Hinge e Bumble, há aplicações que se concentram em reunir pessoas pessoalmente.

De acordo com o The Conversation, uma delas é a Thursday, cada vez mais conhecida. Só está disponível uma vez por semana (precisamente às quintas-feiras) e dá aos utilizadores apenas 24 horas para arranjar um parceiro.

Isto reduz a por vezes chara troca de mensagens ao longo da semana e possivelmente impede que as pessoas utilizem a aplicação simplesmente para validação ou divertimento. A aplicação também organiza eventos presenciais onde os participantes podem encontrar-se presencialmente.

Há alguns motivos pelos quais os encontros presenciais podem ser mais atraentes para algumas pessoas do que as aplicações de encontros. Por exemplo, informação que é possível recolher dos perfis online dá pouco conteúdo para continuar a interação.

Por sua vez, o encontro presencial resulta numa impressão muito mais rica e detalhada do que o encontro digital, onde tudo o que vemos é uma fotografia e, muitas vezes, uma breve biografia. Além disso, 45% dos utilizadores atuais ou anteriores de aplicações ou sites de encontros relataram que a experiência causou frustração.

Os matches online concebem a possibilidade de contactar com pessoas que não conhecemos, facilitando a vida aos utilizadores mal-intencionados. Frequentemente, os utilizadores muitas vezes deturpam-se, resultando em desilusão quando o par se encontra cara a cara.

Como tal, embora o online dating pareça oferecer uma  grande abundância de escolha, as tendências atuais sugerem que os indivíduos tendem a tomar decisões piores quando estão em causa relações amorosas que se desenvolvem em meio digital.

Em oposição, utilizam métodos mais simples quando escolhem entre uma grande variedade de pretendentes e esse processo decorre presencialmente. Este fenómeno é frequentemente referido como o paradoxo da escolha.

Tal como nota a mesma fonte, as aplicações de encontros têm tido um impacto indiscutível na forma como os casais se conhecem e formam. Nos Estados Unidos da América, estas são a forma mais popular de encontros de casais, com o número a aumentar últimos anos.

Parte da atração das aplicações parece ser a simplicidade: é possível criar um perfil e começar a fazer encontros com pessoas em minutos. No entanto, a utilização de aplicações de encontros exige tempo e esforço.

Um grande inquérito através da aplicações de namoro Badoo revelou que os millennials passam em média 90 minutos por dia à procura de um par, fazendo scroll, colocando gostos, combinando e conversando.

Este processo pode levar ao cansaço para alguns. Sem uma correspondência positiva, os esforços acabarão por se esgotar.

Ainda assim, as aplicações de encontros tradicionais ainda são muito populares, especialmente entre os mais jovens. Desde 2021, o Tinder já foi descarregado mais de 450 milhões de vezes – com a Geração Z a representar 50% dos utilizadores da aplicação.

Uma pesquisa da Lendedu questionou 3.852 millennials se alguma vez se tinham encontrado pessoalmente com os seus encontros com o Tinder.

A pesquisa concluiu que apenas 29% o fizeram – muito menos do que os 66% que relataram ter-se encontrado pelo menos uma vez por via de sites de encontros mais tradicionais, tais como Match ou OKCupid.

Mas nem todos os utilizadores do Tinder estão à espera de encontrar um parceiro romântico.

Através de questões apresentadas aos utilizadores do Tinder holandês, foi possível perceber que muitos utilizam a aplicação para obter, precisamente, validação (utilizando os encontros apenas como uma avaliação do próprio nível de atractividade), ou para a adrenalina de participar num encontro, mas sem intenção de estar num relacionamento.

Por esta razão, as aplicações de encontros podem eventualmente perder utilizadores que estejam interessados em relações genuínas, particularmente se os indivíduos tiverem preferência por interações cara-a-cara.

ZAP //

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