Até os nossos antepassados mais antigos tinham animais de estimação

Restos mortais encontrados nas proximidades de porto comercial no Egito podem ser a primeira prova de que os humanos se faziam acompanhar de animais não só para consumo, trabalho ou rituais.

Durante uma escavação em 2011, um grupo de arqueólogos encontrou, numa lixeira do século II, nas proximidades de um antigo porto do Mar Vermelho, restos de um cão de caça embrulhado num tapete de folhas de palmeira. A descoberta juntou-se a mais 585, feitas no decorrer da década seguinte, de esqueletos de gatos, cães, macacos e até raposas. Os animais tinham também coleiras e estavam cobertos de tecidos ou peças de cerâmica.

Isto leva os arqueólogos a acreditar que há quase dois mil anos, os habitantes de Berenice – um posto comercial dominado pelos romanos no Egito —  podem ter criado o cemitério de animais mais antigo do mundo. Ainda assim, estes não são os primeiros túmulos de animais alguma vez encontrados ou até os que se estimam ser mais antigos. Por exemplo, em locais com idades entre 7 mil e 27 mil anos na Eurásia e na América do Norte, os arqueólogos encontraram enterros de caninos que em vida acompanharam caçadores-coletores.

Como lembra a Discover Magazine, os antigos egípcios mumificavam gatos, crocodilos e outras criaturas para depois enterrarem com os humanos mortos, tudo para fins espirituais. Ainda assim, Berenice pode constituir a primeira prova de uma necrópole de animais de estimação genuínos, no lugar dos usados para consumo, trabalho ou rituais.

Para comprovar a sua tese, Marta Osypnska e a sua equipa analisaram a idade, a saúde e os acessórios utilizados nos túmulos, informação que constava num artigo da World Archaeology, publicado em Fevereiro de 2021. Ao contrário do que acontece com as múmias, os ossos encontrados não apresentavam sinais de morte deliberada. Por exemplo, alguns animais podem ter vivido longas vidas vidas graças aos cuidados humanos, apesar de doenças e fraturas.

Através de investigação, os arqueólogos conseguiram perceber que os restos das suas barrigas indicavam o consumo de peixe e lombos de ovelha. Para além das coleiras, estas pistas também sustentam a tese de que estes seres eram, de facto, animais de estimação conservados e amados pelos seus cuidadores – até na hora da morte.

O cemitério de Berenice foi usado sobretudo durante o primeiro e segundo século d.C, quando a região recebeu comerciantes de todo o mundo. Alguns dos animais de estimação, como dois macacos, podem até ter chegado ao território enquanto companhia dos imigrantes.

Steven Sidebotham, historiador da Universidade de Delaware, é há décadas o diretor da escavação, mas nem por isso deixa de se surpreender com a descoberta, em grande parte por ser um fã de animais de estimação, algo que o leva a sentir simpatia pelo descoberta que ali foi feita. “Consigo sentir o que o dono deve ter sentido quando este cão morreu. O aspeto mais humano do local não são os humanos, mas sim os animais com quem eles viviam”, considerou.

ZAP //

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