Alunos que tiveram contactos de risco com casos positivos ficam mais de 10 dias em isolamento, porque a prescrição de testes está atrasada.
De acordo com o Diário de Notícias, a plataforma informática que emite os códigos para prescrição de testes está com “enormes atrasos” e não permite que os alunos façam o teste de covid-19 ao 10.º dia, para regressarem à escola.
O mesmo pode acontecer a qualquer outra pessoa que seja contacto de risco. A situação foi confirmada pelo vice-presidente da Associação de Médicos da Saúde Pública e também não surpreende os diretores de escolas.
De acordo com as orientações da DGS recebidas pelas escolas, os alunos apenas deveriam fazer 10 dias de isolamento, no caso de terem contactado com um colega que testou positivo à covid-19.
Mas este prazo está a ser dilatado para os 14 dias, em algumas casos, para os alunos que não tiveram a possibilidade de fazer dois testes PCR, como impõe a norma da DGS, um ao 5.º dia e outro ao 10.º dia.
Se o isolamento for alargado para 14 dias, os alunos já não são obrigados, segundo as normas, a realizar testes para regressarem às aulas.
As escolas justificam-se aos pais, dizendo que a decisão foi tomada pela unidade de saúde e que esta irá enviar, para cada encarregado de educação, via e-mail, novos certificados de isolamento a prolongar o prazo.
A razão para este problema é “um enorme atraso” na emissão dos códigos de requisição para os testes, na plataforma automática dos serviços saúde.
As escolas aconselham ainda os pais a fazer a vigilância dos sintomas e, em caso de se verificarem, contactar de imediato a Linha de Saúde 24.
O aumento de dias de isolamento profilático está a ser recorrente em várias zonas do país, para resolver a falta de capacidade da plataforma automática dos serviços de saúde Trace Covid.
A plataforma é suposta emitir códigos com o nome de cada aluno, enviados pela escola, para que estes possam realizar os dois testes ou, na pior das hipóteses, apenas um, ao 10.º dia.
O vice-presidente da Associação Portuguesa dos Médicos de Saúde Pública (APMSP), Gustavo Tato Borges, também confirmou o sucedido.
“A situação não é única. Há várias espalhadas por todo o país. E nem é exclusiva dos alunos, está a acontecer há bastante tempo com qualquer pessoa que é identificada na plataforma Trace Covid como contacto de um caso positivo”.
O médico realça que o Trace Covid “não tem capacidade para responder quando há aumentos significativos de casos“.
Não se sabe “qual é a capacidade diária para a emissão de códigos de testes, mas a verdade é que muitos não conseguem fazer este rastreio pela falta de requisição”, acrescenta ainda o dirigente.
No caso dos alunos, Gustavo Tato Borges refere que alguns pais conseguem contornar a situação, ligando para a Saúde 24.
“Explicam o que se passa e pedem a requisição para o teste PCR. Nas zonas em que os colegas estão cheios de trabalho, com casos positivos para isolar e contactos para vigiar, nem sempre é possível passar essa requisição”, explica.
Já “nas zonas em que estão mais aliviados, passam a requisição para o teste ao 10.º dia e os alunos não têm de fazer mais tempo de isolamento“, acrescenta o médico.
A situação também não surpreende Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas.
Para o professor, “mais uma vez são os alunos que estão a ser prejudicados, porque é mais um constrangimento na aprendizagem deste ano”.
“A situação faz com que os pais fiquem mais tempo em casa em assistência à família, com as consequências óbvias do ponto de vista económico e social”, sublinha.
Os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), dos quais depende a gestão e manutenção das plataformas informáticas dos serviços de saúde dizem não ter recebido qualquer tipo de reclamações.
“No âmbito das competências da SPMS e da emissão de requisições pelos profissionais de saúde do SNS24, não são conhecidas queixas de não receção das requisições de testes à Covid-19 emitidos pelo centro de contacto”, declaram.
No caso dos alunos de 5º. ano de uma escola em Lisboa, um caso positivo levou mais de 25 estudantes para casa, a 3 de dezembro.
A escola disse aos pais que iriam receber informações da unidade de saúde da freguesia, para que todos os alunos fossem fazer dois testes PCR. Mas a verdade é que a maioria dos pais não recebeu nada.
Uma mãe de três filhas, com duas mais novas que já estiveram em isolamento e uma mais velha que está agora, afirma que nunca recebeu nenhum código para fazer nenhum dos testes.
“Uns conseguiram a prescrição porque ligaram diretamente para a Linha de Saúde 24 e não ficaram a aguardar o contacto da unidade de saúde. Os que não contactaram, os filhos ficaram sem fazer os testes“, critica a mãe.
Os pais e diretores de escola em Lisboa também se queixam que a maioria dos alunos não tem sintomas e, mesmo sendo contactos de risco, acabam por não fazer um teste de rastreio.
Quando voltam à escola, os pais ficam sem saber “se as crianças tiveram ou não a doença de forma assintomática”.
Filinto Lima sublinha que “a solução não pode ser os alunos estarem a pagar pelos erros do sistema”.