O aquecimento das águas faz com que as ondas de som se propaguem mais rapidamente e sejam mais duradouras, o que vai ter implicações na comunicação dos animais marinhos.
Se já não bastassem todos os problemas que a propagação de microplásticos está a causar nos oceanos, a vida marinha está a receber mais um presente envenenado dos humanos — o barulho dos oceanos.
Um novo estudo publicado na Earth’s Future concluiu que as alterações climáticas estão a aumentar a temperatura dos oceanos e, por isso, a torná-los mais “barulhentos”.
“Calculamos os efeitos da temperatura, profundidade e salinidade com base nos dados públicos para modelarmos a paisagem sonora do futuro“, revela Alice Affati, investigadora de bioacústica e principal autora do estudo, que é o primeiro que se debruça sobre o impacto das alterações climáticas no som dos oceanos.
E o leitor agora pergunta-se: porque é que isso é mau?
A paisagem sonora dos oceanos inclui vibrações produzidas por organismos vivos, fenómenos naturais como o rebentar das ondas ou os estalos do gelo, e também sons causados pela atividade humana, como a passagem de navios ou a extração de recursos naturais.
Quando a água aquece, as ondas sonoras propagam-se mais rapidamente e duram mais. Muitos animais marinhos, como as baleias ou os golfinhos, usam o som para comunicarem uns com os outros, pelo que as mudanças na velocidade das ondas sonoras afetam as capacidades destes animais de se alimentarem, encontrarem parceiros, migrarem ou fugirem de predadores.
A pesquisa prevê que dois pontos sofram mais mudanças nas profundidades de 50 metros e 500 metros, um do mar da Gronelândia e outro no noroeste do Oceano Atlântico. A velocidade média do som deve aumentar mais de 1,5% — ou perto de 25 metros por segundo, — desde a superfície até aos 500 metros de profundidade até ao fim do século, caso as emissões de gases com efeito de estufa se mantenham.
Além dos dois pontos mais frágeis, o estudo também concluiu que haverá um aumento de 1% na velocidade do som aos 50 metros de profundidade no Mar de Barents e no noroeste e sul do Pacífico e aos 500 metros no Oceano Ártico, no Golfo do México e no sul do Mar das Caraíbas.
Os investigadores também criaram modelos para as vocalizações comuns da Baleia-franca-do-atlântico-norte, uma espécie em perigo de extinção, dentro das projeções futuras, e concluíram que a chamada típica destes animais, que ocorre nos 50 Hertz, se vai propagar mais num oceano mais quente.
No futuro, a equipa quer criar um mapa que avalie a interseção de vários fatores que influenciem a paisagem sonora do mar e que aponte para as áreas mais afetadas.