NASA/JPL-Caltech/T. Pyle

Conceito artístico da colisão de um corpo celeste semelhante a Theia com a Terra
O corpo celeste Theia terá colidido com a Terra há 4,5 mil milhões de anos e originado a Lua, assim como deixado marcas na nossa geologia — e pode até ter ajudado o planeta a tornar-se habitável.
Os cientistas estão a desvendar a história cataclísmica da origem da Lua, remontando-a a uma colisão dramática ocorrida há mais de 4,5 mil milhões de anos que remodelou a Terra e deixou para trás pistas nas profundezas do planeta.
A teoria amplamente aceite defende que um objeto da dimensão de Marte, denominado Theia, embateu na Terra primitiva num impacto de alta energia. Este acontecimento não só fundiu partes dos dois corpos planetários, como também ejectou uma enorme quantidade de detritos para a órbita. Esses detritos acabaram por se fundir para formar a Lua.
Embora teorias anteriores sugerissem que Theia poderia ter apenas roçado a Terra, simulações mais recentes e provas geológicas indicam um impacto muito mais direto. Neste cenário, a colisão foi tão intensa que os dois mundos se tornaram num só, misturando os seus materiais quase completamente. Alguns dos detritos formaram um grande satélite, que mais tarde caiu na Terra, enquanto um pedaço mais pequeno foi empurrado para fora – acabando por se tornar a Lua.
Uma peça chave de apoio vem de comparações detalhadas de isótopos de oxigénio em rochas lunares e terrestres. Estes isótopos são praticamente idênticos, o que sugere que o material que formou ambos os corpos provém de uma fonte partilhada e completamente misturada, refere o IFLScience.
“Se tivesse havido uma diferença de isótopos, isso teria apontado para um golpe angulado. Mas o que encontrámos apoia uma colisão mais violenta e central”, explica Ed Young, um dos investigadores principais dedicados a este assunto.
As propriedades invulgares da Lua também apoiam esta teoria. A sua órbita está estreitamente alinhada com a da Terra em torno do Sol, permitindo eclipses solares e lunares. Há também o elevado impulso angular do sistema Terra-Lua, a menor densidade da Lua, a falta de elementos mais leves e o facto de o passado fundido da Lua não poder ser explicado com um simples modelo de acreção.
Mas o legado de Theia pode ser ainda mais profundo – literalmente. Os cientistas acreditam agora que regiões densas e anómalas nas profundezas do manto terrestre, conhecidas como Grandes Províncias de Baixa Velocidade (LLVPs), podem ser remanescentes de Theia.
Localizadas por baixo das placas tectónicas do Pacífico e de África, estas estruturas podem ter-se afundado no manto após o impacto, o que sugere que tiveram uma origem extraterrestre. Alguns investigadores propõem mesmo que o material do núcleo de Theia ajudou a iniciar a atividade tectónica da Terra, uma das caraterísticas derradeiras que torna o nosso planeta habitável.
A colisão pode também ter inclinado o eixo da Terra, dando origem às estações que definem o nosso clima atual.
Embora Theia já não exista como um corpo celeste distinto, a sua chegada dramática alterou para sempre a Terra, moldando tanto a sua superfície como os seus céus.