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“Febre ou loucura mental, não sei bem.” Abstinência de álcool causou delírios em van Gogh

Van Gogh Museum / wikimedia

Auto-Retrato de Vincent Van Gogh

Um novo estudo revelou que o artista Vincent van Gogh teve dois episódios de delírios causados pela abstinência do álcool.

Uma equipa de investigadores holandeses decidiu analisar os distúrbios de um dos principais artistas da História: Vincent van Gogh. De acordo com os especialistas da University Medical Center Groningen, nos Países Baixos, é possível que o pintor tenha sofrido dois episódios de delírio associados a crises de abstinência de álcool.

Os investigadores analisaram centenas de cartas escritas por van Gogh, tendo a maioria delas sido enviada para o irmão, Theo. Com base no estilo de escrita, nas palavras usadas e nos temas das missivas, os especialistas conduziram um detalhado exame psiquiátrico.

Segundo o The Guardian, Vincent van Gogh terá tido dois episódios de delírio causados pela abstinência das bebidas alcoólicas. Os cientistas sugerem que os sintomas estão ligados a um período forçado sem álcool, seguido por “episódios depressivos graves (pelo menos um com características psicóticas) dos quais nunca se recuperou totalmente, levando finalmente ao suicídio”.

Entre dezembro de 1888 e maio de 1889, van Gogh foi hospitalizado três vezes consecutivas em Arles, França, tendo sido transferido para o asilo de Saint-Rémy-de-Provence em maio de 1889. Em dois dos três internamentos, o pintor escreveu uma carta na qual relata ter sofrido “alucinações insuportáveis, ansiedade e pesadelos”.

Uma “febre ou loucura mental ou nervosa, não sei bem o que dizer ou como nomear”, escreveu. Os investigadores sugerem que os sintomas estão ligados a um período forçado sem álcool.

“É provável que pelo menos a primeira psicose em Arles, nos dias após ao incidente na orelha, durante o qual parou de beber abruptamente, tenha sido um delírio de abstinência de álcool”, escreveram os autores da pesquisa.

Um destes episódios está relacionado com o seu famoso corte na orelha. Existem várias teorias sobre o que terá levado van Gogh a fazer o golpe: há quem diga que não era capaz de desenhar na perfeição a orelha no seu autorretrato; a teoria mais popular vaticina que terá sido uma consequência de uma discussão com o pintor francês Paul Gauguin; e há quem diga que o pintor a cortou quando descobriu que o irmão se ia casar.

No entanto, como o artista não está cá para contar o que realmente aconteceu, os especialistas sublinham que as conclusões devem ser interpretadas com alguma cautela.

Estudos anteriores apontaram problemas psicológicos, defendendo que Vincent van Gogh sofreu uma combinação de diversos transtornos como personalidade bipolar e limítrofe, sem nunca haver um diagnóstico relatado pela literatura médica. Este novo estudo, no entanto, descarta a possibilidade de esquizofrenia.

Quanto à hipótese de ter sofrido epilepsia, o novo estudo avança que, provavelmente, van Gogh teve uma “epilepsia mascarada” – não sofreu convulsões, mas sim um distúrbio comportamental baseado na atividade epilética nas partes mais profundas do cérebro.

No caso do artista, a atividade epilética pode ter sido causada por danos cerebrais como resultado do seu estilo de vida. Abuso de álcool combinado com desnutrição, sono insatisfatório e exaustão mental podem ter sido os fatores, avançam os cientistas. As novas descobertas foram publicadas no International Journal of Bipolar Disorders.

ZAP //

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