A temperatura no Oceano Índico pode fornecer alerta precoce de surtos de dengue

As variações da temperatura da superfície do mar no Oceano Índico podem prever a gravidade dos surtos de dengue com até nove meses de antecedência em alguns países asiáticos e sul-americanos.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), quase metade da população mundial está em risco de contrair dengue, uma doença viral transmitida por mosquitos, que provoca até 400 milhões de infeções por ano.

No novo estudo, recentemente publicado na Science, os cientistas afirmam que o índice que mede as alterações de temperatura no Oceano Índico poderá fornecer um alerta precoce de surtos de dengue, o que irá permitir uma resposta mais eficaz aos mesmos.

Segundo o SciDev.Net, os cientistas identificaram que o chamado Índice da Bacia do Oceano Índico (IOBW), uma medida da média das temperaturas à superfície nesta bacia oceânica, é o fator mais influente no impacto dos surtos de dengue em ambos os hemisférios, depois de analisarem 30 índices climáticos globais.

Os investigadores descobriram que as temperaturas mais elevadas à superfície no Oceano Índico podem alterar os padrões climáticos a nível global, promovendo ambientes propícios à reprodução de mosquitos e à propagação da dengue.

“Enquanto a temperatura local pode fornecer uma previsão com até três meses de antecedência, o índice IOBW alarga este prazo para nove meses, oferecendo um sistema de alerta precoce mais robusto”, afirma o coautor do estudo Yiting Xu.

Os atuais sistemas de alerta de dengue utilizam indicadores climáticos, como a precipitação e a temperatura, para prever as tendências da doença.

Para desvendar os fatores climáticos de longa distância dos surtos de dengue, os pesquisadores investigaram as associações entre padrões climáticos globais e números de casos sazonais e anuais, usando dados de casos de dengue relatados em 32 países na América e 14 na Ásia, incluindo a Índia, entre 1990 e 2019.

Uma simulação de cenários de transmissão de dengue com e sem o índice IOBW reproduziu com precisão o surto de 2015 e 2016 e as epidemias de dengue mais brandas que se registaram em todo o mundo entre 2017 e 2018.

Os investigadores esperam futuramente incluir fatores como o controlo dos vetores, as condições socioeconómicas e a imunidade dos locais para melhorar as futuras validações e desenvolver indicadores abrangentes para os sistemas de alerta precoce da dengue.

“Muita coisa pode mudar no período que antecede o surto no que respeita ao padrão de precipitação, número de dias de chuva e precipitação contínua ou interrompida”, afirma Ramesh Dhiman, epidemiologista ambiental e autor principal de um estudo sobre a Oscilação Sul do El Niño, publicado em 2020 na BMC Public Health.

“Os nossos estudos descobriram que os surtos de dengue estão estreitamente ligados aos fenómenos El Niño, bem como às chuvas de monção e pós-monção em alguns estados, enquanto outros mostram uma diminuição dos casos de dengue durante os fenómenos El Niño do verão”, conclui Dhiman.

Soraia Ferreira, ZAP //

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