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A mais sagrada de todas as ilhas está a afundar-se

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Bernard Gagnon / Wikipedia

Anfiteatro em Delos, Grécia

A ilha de Delos, conhecida como o local de nascimento de Apolo, está a afundar-se. Os investigadores afirmam que as alterações climáticas são responsáveis pelo seu lento desaparecimento.

A ilha grega de Delos, outrora chamada “a mais sagrada de todas as ilhas“, está a afundar-se. De acordo com uma equipa de investigadores franceses, a pequena terra rochosa ficará submersa dentro de poucas décadas.

“Delos está condenada a desaparecer dentro de cerca de 50 anos”, afirma Veronique Chankowski, directora da Escola Arqueológica Francesa de Atenas (EFA), à Agência France-Presse.

Situada perto de Mykonos, no Mar Egeu, a ilha de 1,3 km2 é habitada pelo homem desde o terceiro milénio a.C.

Tornou-se conhecida como um local importante na mitologia grega, sendo considerada o local de nascimento de Apolo, o deus do Sol, e da sua irmã gémea Ártemis, a deusa da Lua. No século IX A.E.C., recorda a Smithsonian, Delos tinha-se estabelecido como um santuário apolíneo.

A peregrinos viajavam de toda a Grécia para visitar a ilha sagrada, que também era um centro de comércio marítimo, salienta a UNESCO. Como sítio arqueológico, Delos é “excecionalmente extenso e rico”, marcado por múltiplas civilizações do Egeu entre o terceiro milénio A.E.C. e o início do Cristianismo.

Atualmente, a subida do nível do mar causada pelas alterações climáticas está a pôr em risco o antigo local. Os últimos levantamentos realizados pelos cientistas da EFA revelaram que já foram causados danos irreversíveis, conta a Newsweek.

Segundo a AFP, nos últimos 10 anos, o nível do mar subiu cerca de 21 metros em algumas partes de Delos. Ao mesmo tempo, a ilha está “a afundar-se progressivamente” devido aos “movimentos das placas tectónicas na região”, escreve a Newsweek.

Os investigadores encontraram os maiores danos numa zona que alberga armazéns datados dos séculos I e II A.E.C.

“A água entra nos armazéns no inverno”, diz Jean-Charles Moretti, diretor da missão francesa em Delos, à AFP. “Esta água come a base das paredes. … Todos os anos, na primavera, reparo que novas paredes se desmoronaram”.

Estas estruturas vulneráveis não estão acessíveis os viajantes. No entanto, Delos é um destino turístico popular — e o intenso tráfego pedonal está a agravar o problema. Os visitantes passam frequentemente por zonas restritas, acelerando a degradação da ilha.

As outras estruturas importantes da ilha incluem o Santuário de Apolo, os restos de uma povoação helenística e “o icónico Terraço das Estátuas dos Leões”.

No seu auge, Delos contava com uma população de cerca de 30.000 habitantes. Mas depois de ter sido atacada e saqueada em 88 e 69 A.E.C., a ilha foi “gradualmente abandonada”.

Para evitar os danos causados pelo mar, os especialistas estão a instalar vigas de madeira para suportar algumas das antigas muralhas. No entanto, serão necessárias intervenções mais sérias para preservar as estruturas.

“Todas as cidades costeiras vão perder áreas significativas atualmente situadas ao nível do mar”, diz à AFP a arqueóloga Athena-Christiana Loupou, guia turística do local. “Substituímos as palhinhas de plástico por palhinhas de papel, mas perdemos a guerra“.

ZAP //

7 Comments

  1. Segundo o artigo original, a linha de costa, nos últimos 10 anos, avançou aproximadamente 65 pés, ou seja, c.19,8 metros. É muito diferente de o nível do mar subir 30metros. Tradução e adaptação péssima! Aliás, o nivel do mar tem subido 2.8 mm por ano…

    • Caro leitor,
      Obrigado pelo reparo.
      Na realidade, não se trata de um erro de tradução, mas um erro na informação que consta na Smithsonian, que cita a AFP, e segundo a qual “o nível das águas do mar subiu 70 pés” (cerca de 21 metros).
      A Newsweek, no entanto, outra das fontes que citamos, refere corretamente que “a linha de costa subiu 65 pés” (cerca de 20 metros), que é a formulação correta.
      Se o nível das águas do mar tivesse subido 30 metros, estaríamos todos submersos 🙂
      Está corrigido.

  2. Pelo que me parece, o afundamento não se deve apenas à subida do nível da água do mar, mas também aos movimento das placas tectónicas. De qualquer forma, suspeito que o Poseidon esteja por detrás disto…

    • Caro leitor,
      Obrigado pelo seu reparo.
      Usamos habitualmente no ZAP a designação a.C., mas a designação que usámos neste artigo, A.E.C., é na realidade (aparentemente) mais correta.
      Os dois termos, a.C. (“antes de Cristo”) e A.E.C. (“Antes da Era Comum”, ou “Antes da Era Cristã”) são equivalentes, mas A.E.C. é uma designação neutra em relação à religião, utilizada principalmente em contextos académicos ou em ambientes que procuram evitar referências religiosas.
      Independentemente dessa distinção, não é norma do ZAP saltar de cabeça para novas designações só porque está na moda. Continuamos a chamar holandeses aos habitantes dos Países Baixos. Provavelmente continuaremos a usar a.C., não temos problemas em usar referências religiosas, mas também não vemos problema em usar A.E.C. Apenas nos parece (como a si) ainda um pouco estranho.

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