De acordo com a teoria inicial dos autores, poderia haver um benefício associado a pensar em si próprio e no parceiro como uma equipa.
As escolhas linguísticas que fazemos consciente ou inconscientemente em relação aos parceiros amorosos podem ser indicadoras do estado das relações.
Esta foi a conclusão de uma equipa de investigadores da Universidade Concordia, no Quebec, que realizou um estudo longitudinal, de forma a perceber se o “nós” estava associado a um maior sucesso matrimonial.
De acordo com a teoria inicial dos autores, poderia haver um benefício associado a pensar em si próprio e no parceiro como uma equipa, demonstrado por uma tendência para o uso de pronomes plurais comuns.
“A utilização de ‘nós’ pelos cônjuges pode evidenciar uma identidade partilhada, em detrimento de uma ideia separada ou individualista do eu dentro de uma relação romântica“, escreveu a equipa no seu artigo.
A pesquisa incluiu 77 casais heterossexuais que deveriam cumprir alguns requisitos: tinham de coabitar e ser tutores legais de uma criança com menos de 7 anos. O estudo foi realizado em formato bilingue, em inglês ou francês, de acordo com as preferências de cada casal.
Os membros dos casais iam trocando na condução de uma breve conversa enquanto um experimentador observava de outra sala, centrado em torno da experiência de criar o seu filho com o seu parceiro.
Este tópico foi escolhido porque criar um filho é considerado um “fator de stress partilhado”, algo que afeta ambos os parceiros e está associado ao aumento do conflito dentro de uma relação.
O cônjuge que não conduziu a discussão foi instruído a “interagir com o seu parceiro da forma que ele quisesse“.
Antes das discussões, foi pedido aos casais que preenchessem um questionário de grau de satisfação conjugal.
As transcrições das conversas dos casais foram igualmente submetidas a um programa de análise de texto para medir a utilização dos pronomes no plural versus pronomes singulares.
Para efeitos da análise, cada casal foi avaliado como “ator” (a pessoa que lidera a discussão) ou como “parceiro” (a pessoa que responde à discussão). Os resultados mostraram que o uso do “nós” pelo ator foi associado a uma mudança na satisfação conjugal.
Para os parceiros, havia uma ligação entre o uso da conversa e a satisfação quando as medidas de base foram tomadas antes do estudo. No entanto, isto não parece ser preditivo de qualquer mudança na satisfação ao longo do tempo.
“Estes resultados sugerem que, embora o uso da palavra “nós” possa estar simultaneamente associado positivamente à satisfação conjugal do nosso parceiro, é o próprio uso da palavra que prevê a satisfação conjugal ao longo do tempo”, escrevem os autores.
Por outras palavras, pensar no seu cônjuge como parceiro de apoio durante tempos de stress, tais como criar um filho pequeno, pode proteger o casamento com o passar do tempo, nota o IFL Science.
É importante sublinhar que grande parte das investigações feitas anteriormente concentrou-se no efeito de falarmos sobre as relações em que um parceiro está a passar por um grave problema de saúde.
Essa é uma dinâmica bastante diferente deste estudo, que se debruçou sobre uma situação stressante que é partilhada entre ambos os parceiros.