Um novo suplemento alimentar para as vacas leiteiras poderá fazer cair em 30% as emissões de metano, gás com efeito de estufa produzido na sua digestão, sendo por isso um elemento promissor contra o aquecimento global, segundo a agência AFP.
Os bovinos na pecuária produzem cerca de 44% das emissões mundiais de metano, resultantes das atividades humanas, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, explicam os autores de um estudo publicado na última edição dos relatórios da Academia Americana de Ciências.
A fermentação no rúmen dos bovinos, ovinos e caprinos, uma das quatro cavidades do seu estômago, produz o metano que resulta da ação de micro-organismos durante a digestão, mas estes animais devem expelir estes gases para sobreviver.
As vacas leiteiras expelem cerca de 450 a 550 gramas de metano por dia.
Os cientistas descobriram que uma substância batizada de 3-nitrooxypropanol (3-NOP), desenvolvida pela firma holandesa DSM Nutritional Products, dada como suplemento alimentar, bloqueia uma enzima necessária para a formação do metano no rúmen sem afetar a digestão.
Esta pesquisa, realizada durante três meses nos estábulos da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, em condições iguais às que se encontram os animais criados na pecuária e nas unidades industriais de produção de laticínios, mostrou também que este novo inibidor de metano permite um ganho de peso 80% superior aos animais do grupo de controle.
Este ganho de massa corporal explica-se pelo carbono que não foi utilizado na formação do metano e que o organismo usou para produzir mais tecido.
A sua saúde não foi afetada e a quantidade de leite produzido não reduziu, diz Alexander Hristov, professor de nutrição daquela universidade e principal autor desta pesquisa.
Em anos anteriores, várias equipas científicas testaram inúmeras substâncias químicas, especialmente nitratos, para diminuir a produção de metano dos ruminantes, permitindo reduções até 60%, afirmou Hristov.
“Mas esses agentes tiveram de ser abandonados devido aos efeitos nocivos para a saúde e os riscos para a segurança alimentar e ambiente”, acrescentou.
“Se a Agência Norte-Americana de Produtos Alimentares e Medicamentos aprovar este inibidor de metano, isso poderá ter um impacto importante nas emissões de gás de efeito de estufa proveniente da pecuária”, declarou o professor Hristov à AFP.
Este novo suplemento alimentar vai ainda ser objeto de investigações para confirmar os resultados.
Segundo o professor, o custo deve reduzir o suficiente ao ser produzido industrialmente e, por isso, não ser impedimento para os criadores de gado.
Para Sesnon Endowed, professor de ciência animal na Universidade da Califórnia, em Davis, que não participou nesta pesquisa, “30% é muito e pode fazer uma grande diferença nos gases de efeito de estufa no setor agrícola”, acrescentando que “é muito diferente do que está a ser feito atualmente para minimizar a produção do metano dos ruminantes, que consiste sobretudo em modificar o regime alimentar”.
No total, a agricultura contribui para 24% das emissões mundiais de gases de efeito de estufa, CO2 e metano, essencialmente.
/Lusa