
Um novo estudo desafia a teoria de que a instabilidade modulacional é a causa das ondas vagalhão, que engolem navios inteiros de repente.
Durante séculos, as histórias dos marinheiros falavam de ondas monstruosas que surgiam do nada, tão altas que engoliam navios inteiros.
A maioria era descartada como exagero, fruto de olhares cansados e de histórias fantásticas vindas do alto-mar.
No século XIX, os cientistas chegaram a declarar tais “vagalhões” impossíveis, insistindo que o oceano não conseguia produzir ondas com mais de 9 metros de altura.
Este ceticismo ruiu a 1 de Janeiro de 1995, quando uma parede de água com 26 metros de altura atingiu a plataforma petrolífera de Draupner, no Mar do Norte da Noruega.
O evento, conhecido como “onda de Draupner“, forneceu a primeira evidência concreta de que estas ondas gigantes eram reais e muito mais perigosas do que se pensava.
Quase três décadas depois, os investigadores afirmam ter finalmente desvendado o mistério de como se formam estes monstros.
Num novo estudo publicado na Nature Scientific Reports, uma equipa liderada por Francesco Fedele, da Georgia Tech, analisou 18 anos de dados de ondas oceânicas com mais de 27 mil registos no total e descobriu a receita por detrás destes acontecimentos bizarros.
“As ondas gigantescas seguem as ordens naturais do oceano — não são exceções a elas”, explicou Fedele. “São extremas, mas são explicáveis.”
O estudo desafia a teoria de longa data de que a instabilidade modulacional, que se refere às pequenas irregularidades nas ondas que crescem através de interações não lineares, é o principal fator que causa as ondas gigantescas.
Este processo funciona bem em tanques de laboratório, observou Fedele, onde a energia se move apenas numa direção. Mas o oceano aberto é muito mais complexo.
Em vez disso, os investigadores descobriram que as ondas gigantescas surgem de dois efeitos combinados. O primeiro é o foco linear, quando ondas que viajam a velocidades e direções diferentes se alinham ao mesmo tempo, acumulando-se numa única crista imponente.
O segundo são as não linearidades ligadas, distorções naturais que exageram a altura de uma onda até 20%. Juntos, estes processos explicam como o oceano pode, de repente, produzir ondas gigantes destrutivas.
As descobertas são mais do que uma curiosidade científica. Têm implicações urgentes para a segurança marítima, a engenharia costeira e as infraestruturas offshore.
“A navegação de navios, as estruturas costeiras e as plataformas petrolíferas precisam de ser concebidas para suportar estes eventos extremos“, disse Fedele.
A equipa trabalha agora para integrar os seus resultados em modelos de previsão, com o potencial de utilizar a aprendizagem automática para prever ondas gigantes antes que estas rebentem.