Inspeção-Geral da Educação investiga Escola de Artes de António Capelo

aceescoladeartes / Instagram

O ator António Capelo

A Inspeção-Geral da Educação e Ciência abriu um processo de averiguações à ACE – Escola de Artes, no Porto, após ter recebido uma denúncia sobre aquela instituição, disse este domingo o Ministério da Educação.

A direção da ACE – Escola de Artes, no Porto, demitiu-se na quinta-feira, após terem vindo a público, na última semana, testemunhos a dar conta de alegados casos de abusos por parte de professores daquela instituição ao longo de vários anos.

“A Inspeção-Geral da Educação e Ciência determinou a abertura de um processo de averiguações, na sequência de uma denúncia que deu entrada no dia 8 de setembro”, disse à Lusa fonte oficial do Ministério da Educação, Ciência e Inovação, que também já tinha confirmado a decisão da IGEC aos jornais Público e Expresso.

Na semana passada começaram a ser divulgadas em páginas nas redes sociais,  nomeadamente +umcasting e nãotenhasedo, testemunhos de alunos e ex-alunos da ACE a darem conta de um clima de intimidação, abusos e humilhação dentro da escola e de abordagens impróprias de professores.

A direção da escola, que leciona cursos profissionais artísticos do 10.º ao 12.º ano, referiu que tomou a decisão de se demitir por considerar que “o presente momento exige serenidade, estabilidade e a proteção da missão e dos valores que ACE – Escola de Artes representa”.

Um dos principais visados nos testemunhos é o ator António Capelo, que deu aulas na ACE até 2022.

A juntar aos testemunhos partilhados nas redes sociais, surgiu um outro, tornado público pelo Bloco de Esquerda. Num comunicado divulgado na terça-feira, o partido dá conta de que recebeu na semana passada, “por parte de uma pessoa, eleita local do Bloco e antigo aluno do ator António Capelo, o relato presencial de atos muito graves cometidos por este professor de teatro”.

Segundo o comunicado do Bloco, este relato, de factos alegadamente ocorridos há mais de dez anos, “é consistente com outros, citados publicamente nos últimos dias”.

Na sexta-feira, o jornal Público publicou um depoimento da pessoa em causa, Mia Filipa, educadora e ex-aluna da ACE, em processo de transição de género, que de identifica era um rapaz de 16 anos na altura em que alega ter sido vítima de abuso sexual por António Capelo.

O ator nega as acusações, tendo dito na quinta-feira, em declarações à Lusa, estar a ser vítima de “uma cabala”, com acusações falsas, e assegurou que vai lutar na justiça pela honra e pela verdade.

Rejeito categoricamente qualquer tipo de ação que leve a um ato sexual com alunos. Rejeito categoricamente”, declarou António Capelo à Lusa, assumindo que leu alguns dos depoimentos que vieram a público e dizendo que “alguns são um bocadinho tontos” e muitos não são de alunos seus.

“Há muita gente a falar contra mim que eu não conheço de lado nenhum”, disse.

O ator, de 69 anos, que foi um dos fundadores da ACE em 1990, confessou que nunca se sentiu tão “injustiçado na vida”, reiterando que são falsas as acusações anónimas que estão a ser publicadas nas redes sociais e contou ter apresentado uma queixa-crime no Ministério Público contra “uma página anónima no Instagram gerida por uma ex-aluna da escola ACE de Famalicão”.

O ator, atualmente a trabalhar numa telenovela em exibição na TVI, diz ser “absolutamente contra este universo e este mundo que anda nas redes sociais a julgar anonimamente as pessoas”, com coisas “absolutamente indescritíveis”.

António Capelo assumiu à Lusa que, ao longo dos anos, convidou alunos para sua casa para “irem buscar livros” e “jantarem, porque precisavam de comer”. O ator contou também que chegou a convidar alunos para viverem em sua casa, “porque não tinham onde viver”.

“Alojei durante dois meses um aluno que era do Algarve, que teve um acidente no Porto, teve de ser operado a uma perna e ficou em minha casa. Tratei dele como se fosse meu filho e agora sou acusado de levar meninos para casa”, afirmou o ator.

O ator receia agora pela sua continuidade em projetos nos quais está atualmente envolvido. António Capelo contou que na sexta-feira tinha um recital marcado na Igreja de Cedofeita (Porto) e que já foi adiado, por comum acordo das partes.

“Isto é medonho. Medonho. As pessoas que fazem isto nunca pensam no que está daquele lado”, lamenta o ator, criticando o comunicado do BE, que classificou como “execrável” e do qual o partido se devia “envergonhar profundamente”.

Fonte oficial da ACE Escola de Artes confirmou à Lusa que aquela instituição criou em 6 de janeiro deste ano um Canal de Denúncia, “na sequência de uma reformulação do regulamento interno da escola”, não tendo recebido nenhuma queixa através dele.

A ACE, fundada em 1990 no Porto, com um polo em Vila Nova de Famalicão, tem 64 trabalhadores efetivos atualmente e afirma-se com “um projeto educativo de referência na formação e criação no domínio das artes do espetáculo”.

ZAP // Lusa

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