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A análise de um crânio fóssil fornece a primeira prova direta de que ursos combatiam em arenas romanas, e conta uma inquietante história de maus-tratos animais.
Para os cidadãos do antigo Império Romano, uma ida ao anfiteatro significava um dia emocionante de entretenimento. Para muitos gladiadores e animais envolvidos, porém, tratava-se de uma luta pela sobrevivência.
Um novo estudo, publicado na semana passada na revista Antiquity, fornece agora a primeira prova direta de que foram usados ursos-pardos nas arenas romanas, revelando um retrato sombrio do tratamento brutal a que eram submetidos.
“Este estudo apresenta a primeira evidência osteológica direta da participação de ursos-pardos em espetáculos romanos, oferecendo uma visão da importância destes animais nos espetáculos em todo o Império”, dizem os autores do estudo, citados pelo Live Science.
Os historiadores há muito sabiam, graças a textos antigos e a imagens em mosaicos e cerâmica, que os romanos utilizavam ursos para entretenimento nos anfiteatros. Contudo, faltava a prova física.
No estudo, os investigadores analisaram o crânio fragmentado e danificado de um urso-pardo, escavado na Sérvia em 2016.
O achado surgiu junto à entrada das ruínas de um anfiteatro do século II, na antiga e importante cidade romana de Viminacium. Nos ossos estava escrita uma inquietante história de maus-tratos animais.
Nemanja Marković et al / Antiquity

Os arqueólogos analisaram um crânio fragmentado de urso-pardo encontrado perto do antigo anfiteatro Viminacium.
Uum passado brutal
Grande parte da abóbada craniana do urso foi preservada, fornecendo abundante material para análise científica. O animal, um macho com cerca de seis anos, morreu há aproximadamente 1.700 anos.
Sofrera uma fratura extensa no osso frontal provocada por um impacto violento — provavelmente por uma lança ou arma semelhante. Mas essa não terá sido a causa imediata da morte.
Radiografias e tomografias computorizadas mostraram que a lesão tinha começado a cicatrizar, mas foi complicada por uma infeção, originando osteomielite (inflamação óssea). As mandíbulas do animal também exibiam sinais de infeção.
A análise dos caninos revelou ainda um desgaste excessivo, incomum em ursos selvagens. Este tipo de dano dentário é típico de animais em cativeiro que, em situação de stress, roem as grades das jaulas.
Tal sugere que o urso terá vivido aprisionado durante muito tempo — talvez anos. O infortúnio do animal pode tê-lo levado a participar em numerosos espetáculos no anfiteatro de Viminacium, enfrentando caçadores ou outros animais.
Os investigadores não conseguem afirmar se o urso morreu em plena arena. Consideram mais provável que o ferimento inicial tenha ocorrido num combate e que a infeção subsequente tenha contribuído para a sua morte algum tempo depois.