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Pescar com drone já é uma realidade – e já é um problema

O entusiasmo normal quando se une tecnologia de ponta e passatempos tradicionais. Mas esta novidade não parece ser grande ideia.

A pesca com drones está a conquistar cada vez mais adeptos na África do Sul, na Nova Zelândia e na Austrália. Mas há especialistas que alertam para os riscos ambientais que a prática pode representar.

Este método utiliza drones para transportar linhas com isco a locais de difícil acesso ou águas mais profundas, muitas vezes fora do alcance da pesca tradicional. Alguns drones equipados com câmaras permitem ainda localizar cardumes, aumentando as hipóteses de sucesso.

O fenómeno começou a ganhar visibilidade em meados da década de 2010, quando os drones se tornaram mais acessíveis.

Em 2016, um vídeo viral no YouTube de um pescador australiano a capturar um atum-de-barbatana-longa com drone disparou a curiosidade pelo tema.

Pesquisas online sobre a prática aumentaram 357% nesse ano, e hoje existem milhares de entusiastas ativos em redes sociais, com alguns grupos do Facebook a ultrapassar os 17.000 membros.

Apesar do crescimento, a pesca com drones continua praticamente sem regulamentação, salienta o ZME Science.

A África do Sul é um dos poucos países a adotar medidas de controlo, enquanto na Nova Zelândia e na Austrália a supervisão ainda é mínima. Esta lacuna preocupa conservacionistas, sobretudo pelo impacto em populações de peixes já vulneráveis.

Um estudo analisou 100 vídeos de pesca com drones nesses três países mais envolvidos na prática.

Constatou-se que, enquanto na Nova Zelândia e na Austrália os pescadores visam principalmente o pargo-vermelho, na África do Sul a maioria das capturas — 97% — são tubarões, incluindo espécies como o tubarão-sombrio, em risco de extinção. Estes predadores de topo desempenham um papel crucial no equilíbrio dos ecossistemas marinhos, e a sua sobrepesca pode provocar efeitos em cascata na cadeia alimentar.

A prática pode também gerar tensões nas comunidades piscatórias sul-africanas. A costa do país, com 2.850 km, acolhe cerca de 400.000 pescadores costeiros, muitos a pescar para subsistência, e aproximadamente 32.400 pescadores de pequena escala dependem da pesca à linha. A entrada de pescadores mais abastados a utilizar drones aumenta a competição pelos recursos marinhos, criando potenciais conflitos sociais.

Especialistas alertam que, mesmo que a pesca com drones não altere drasticamente os stocks globais de peixes, qualquer pressão adicional sobre espécies vulneráveis como os tubarões pode ter consequências ecológicas graves.

ZAP //

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