No século XVIII, o “monstro de Londres” esfaqueava mulheres nas nádegas (e inspirou roupas protetoras)

British Museum

O monstro de Londres inspirou novas modas nas roupas das mulheres para se protegerem dos ataques

Nos finais do século XVIII, um criminoso em Londres atacava mulheres de classe alta esfaqueando-as nas nádegas ou seios. O pânico levou a que as mulheres passassem a usar panelas debaixo dos vestidos.

Muito antes de Jack, o Estripador, semear o pânico na Londres vitoriana, outro agressor sombrio conhecido como o “Monstro de Londres” aterrorizava as ruas da capital britânica no final do século XVIII. Entre 1788 e 1790, uma série de ataques bizarros e perturbadores mergulhou a cidade num clima de medo, gerando uma onda de histeria que viria a cair no esquecimento.

O agressor, cuja identidade continua desconhecida, visava mulheres elegantes, sozinhas e de classe alta, em zonas distintas de Londres. Os ataques seguiam um padrão inquietante: esfaqueava as vítimas nas coxas, nádegas, seios ou rosto, usando objetos cortantes escondidos, como navalhas ou espadas finas.

Numa das suas táticas mais bizarras, escondia a arma num ramo de flores e atacava o nariz das mulheres quando estas se inclinavam para o cheirar. Estas ações foram posteriormente classificadas como “piquerismo”, uma parafilia rara em que há excitação sexual ao perfurar a pele de alguém com objetos pontiagudos.

O caso foi aprofundado pelo historiador Jan Bondeson, que descobriu um antigo cartaz na Biblioteca Britânica e publicou em 2002 o livro The London Monster: A Sanguinary Tale. Em 1790, já se contabilizavam mais de 50 ataques, com relatos de perseguições, ferimentos e abusos verbais. A primeira vítima documentada, Maria Smyth, sofreu traumas físicos e psicológicos após ser esfaqueada no peito e na coxa.

A reação pública foi intensa. O corretor londrino John Julius Angerstein ofereceu uma recompensa de 100 libras pela captura do “Monstro” — uma quantia considerável na época. Os cartazes provocaram uma onda de pânico: surgiram patrulhas de vigilantes, acusações falsas e até sátiras nos jornais. Um grupo de homens criou o “No Monster Club”, exibindo emblemas nas lapelas a declarar a sua inocência.

Com medo, as mulheres começaram a usar roupas protetoras engenhosas: anáguas de cobre, almofadas de cortiça e até panelas por baixo das saias, Curiosamente, os traseiros falsos já eram tendência na época e ganharam agora um novo propósito: defesa pessoal.

Eventualmente, um galês chamado Rhynwick Williams foi preso, julgado e condenado a seis anos de prisão, embora persistam dúvidas quanto à sua culpa. Bondeson e outros historiadores acreditam que Williams terá sido apenas um bode expiatório, usado para encobrir a ineficácia policial. Alguns especialistas vão mais longe, sugerindo que o “Monstro” talvez nunca tenha existido, sendo apenas um caso clássico de histeria coletiva, refere o Ancient Origins.

Seja qual for a verdade, a história do Monstro de Londres continua a ser um dos capítulos mais estranhos e inquietantes do passado da cidade.

ZAP //

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