// Ebrahim, S. eta al / Nature Communications

A descoberta de um novo organelo, que tem a função de ajudar as nossas células a classificar, reciclar e descartar material importante no seu interior, pode abrir caminho a novos tratamentos para doenças hereditárias devastadoras.
Uma equipa de investigadores da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia (UVA) e dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA descobriu um novo organelo, a que foi dado o nome de “hemifusoma“, no interior das nossas células.
A descoberta foi apresentada num artigo publicado na semana passada na revista Nature Communications.
Segundo os autores do estudo, este pequeno organelo tem uma função importante, ajudar as nossas células a classificar, reciclar e descartar material importante dentro de si mesmas.
A descoberta pode ajudar os cientistas a compreender melhor o que corre mal nas condições genéticas que perturbam estas funções essenciais de manutenção.
“Isto é como descobrir um novo centro de reciclagem dentro da célula”, explica Seham Ebrahim, investigadora do Departamento de Fisiologia Molecular e Física Biológica da UVA e corresponding author do estudo.
“Pensamos que o hemifusoma ajuda a gerir como as células embalam e processam material, e quando isto corre mal, pode contribuir para doenças que afetam muitos sistemas no corpo”, detalha a investigadora, citada pelo Phys.
Uma dessas condições é a síndrome de Hermansky-Pudlak, uma doença genética rara que pode causar albinismo, problemas de visão, doença pulmonar e problemas com a coagulação sanguínea. Problemas com a forma como as células lidam com material estão na raiz de muitas dessas perturbações.
“Estamos apenas a começar a compreender como este novo organelo se encaixa no quadro geral da saúde celular e da doença”, disse Ebrahim. “É emocionante porque encontrar algo verdadeiramente novo dentro das células é raro—e dá-nos um caminho completamente novo para explorar.”
Embora os hemifusomas tenham escapado à deteção até agora, os cientistas dizem que são surpreendentemente comuns em certas partes das nossas células.
Os cientistas acreditam que os hemifusomas facilitam a formação de vesículas, pequenos sacos semelhantes a bolhas que atuam como taças de mistura, e de organelos compostos por múltiplas vesículas.
Este processo é crítico para a classificação celular, reciclagem e eliminação de detritos, relatam os investigadores.
“Pode pensar-se nas vesículas como pequenos camiões de entrega dentro da célula”, disse Ebrahim, do Centro de Fisiologia de Membranas e Células da UVA. “O hemifusoma é como uma doca de carregamento onde elas se conectam e transferem material. É um passo no processo que não sabíamos que existia.”