
Os sons artificiais colocados nos carros elétricos para alertar os peões da sua aproximação podem ter o efeito contrário, confundido ainda mais e aumentando o risco de acidentes.
Um novo estudo da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia, revelou uma falha preocupante nos sistemas de alerta sonoro criados para aumentar a segurança dos carros elétricos.
Segundo os investigadores, os sons artificiais emitidos por estes veículos — sobretudo quando há vários presentes ao mesmo tempo — podem, na verdade, dificultar a perceção da sua localização, aumentando o risco de acidentes para os peões.
Ao contrário dos motores a combustão, os carros elétricos são quase silenciosos a baixas velocidades, o que representa um perigo para peões, ciclistas e pessoas com deficiência visual, que dependem do som para detetar a aproximação dos veículos. Para combater este problema, foram implementados sistemas AVAS (Acoustic Vehicle Alerting Systems) que obrigam os veículos a emitir sons de aviso quando circulam devagar ou em marcha-atrás.
Contudo, o novo estudo, publicado na Journal of the Acoustical Society of America, mostra que nem todos os sons AVAS são eficazes. Os investigadores testaram quatro tipos diferentes de sons: o ruído tradicional de motor a combustão, um som filtrado, um sinal sonoro de dois tons (semelhante ao beep dos camiões em marcha-atrás), e um alerta complexo de vários tons.
Os testes envolveram 52 participantes colocados num ambiente controlado, rodeados por 24 altifalantes escondidos dispostos em círculo, dentro de uma câmara anecoica (sem ecos). Os participantes usaram um controlador para indicar a direção de onde pensavam que os sons provinham.
Os resultados foram claros: os sinais de dois tons foram os que apresentaram pior desempenho, especialmente quando havia vários veículos simulados em simultâneo. No cenário com três veículos com sons idênticos, cerca de 40% dos participantes não conseguiram localizar corretamente mais de metade dos veículos.
Em contraste, o som tradicional de motor foi o mais fácil de localizar, mesmo em ambientes complexos, com 87% dos participantes a identificar corretamente todos os veículos, refere o Study Finds.
Os autores alertam para uma falha nas normas de segurança atuais, particularmente nos EUA, onde a legislação exige que veículos do mesmo modelo emitam sons AVAS idênticos — criando precisamente o tipo de confusão que o estudo identificou como problemática. O problema está na natureza limitada das frequências dos sons simples, que não fornecem informação direcional suficiente ao sistema auditivo humano.
O investigador principal, Leon Müller, recomenda que os futuros sistemas AVAS incluam maior variabilidade nos sons, para evitar que dois veículos emitam exatamente o mesmo sinal. No entanto, sublinha que são necessários mais estudos para definir a melhor abordagem.