Uma das opções do Irão para retaliar contra os ataques dos EUA este domingo é encerrar o Estreio de Ormuz, por onde circula 20% do petróleo mundial. No entanto, a decisão arrisca irritar a China, que seria o país mais afetado.
De acordo com o órgão iraniano Press TV, o Parlamento do Irão aprovou um plano este domingo para encerrar a circulação de navios no Estreito de Ormuz, uma das principais rotas comerciais do mundo. Este bloqueio deverá ser uma das formas de retaliação do Irão ao ataque levado a cabo pelos Estados Unidos na madrugada do último domingo.
A decisão final ainda deverá ser confirmada pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional, mas a resposta norte-americana já se faz ouvir, com o Secretário de Estado Marco Rubio a apelar à China que pressione o Irão a não bloquear o estreito.
“Eu incentivo o governo chinês em Pequim a contactá-los sobre isso, porque eles dependem fortemente do Estreito de Ormuz para o seu petróleo. Será o suicídio económico deles. E ainda temos opções para lidar com isso, mas outros países também deveriam considerar. Isso prejudicaria as economias de outros países muito mais do que a nossa”, declarou Rubio em entrevista à Fox News este domingo.
Cerca de 20% do petróleo mundial passa pelo Estreito de Ormuz, com os principais produtores de petróleo e gás do Médio Oriente a utilizá-lo para transportar o ouro negro. Qualquer interrupção na circulação do Estreito de Ormuz afetaria gravemente o fornecimento de petróleo, principalmente para os países asiáticos, e acabaria por causar um efeito dominó no resto do mercado mundial e fazer disparar os preços dos combustíveis e da energia.
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Estreito de Ormuz
Recorde-se que o impacto nos preços dos combustíveis já está a ser sentido desde o ataque inicial de Israel contra o Irão há mais de uma semana. Esta segunda-feira, inclusive, os preços da gasolina e do gasóleo em Portugal dispararam 8 e 3 cêntimos por litro, respetivamente, o que gerou grandes filas nos postos de abastecimento no fim de semana. O preço de um barril de petróleo também voltou a subir após a entrada dos Estados Unidos no conflito.
A China, em particular, é a maior compradora mundial de petróleo iraniano e mantém uma relação próxima com Teerão, podendo ser um aliado inesperado de Washington neste cenário. Segundo dados da empresa de rastreamento de navios Vortexa, Pequim compra 1,8 milhões de barris de petróleo diários a Teerão, podendo ser particularmente afetada no caso de um bloqueio ao Estreito de Ormuz.
Para além da China, outras grandes economias asiáticas, como a Índia, o Japão e a Coreia do Sul, também dependem bastante da circulação do petróleo pelo estreito. De acordo com a analista de energia Vandana Hari, o Irão tem “pouco a ganhar e muito a perder” com o fechamento do Estreito.
“O Irão corre o risco de transformar os seus vizinhos produtores de petróleo e gás no Golfo em inimigos e provocar a ira do seu principal mercado, a China, ao interromper o tráfego no Estreito”, afirma à BBC.
Segundo o especialista em assuntos do Médio Oriente José Tomaz Castello Branco, um possível bloqueio também seria um tiro no pé por parte dos iranianos. “A economia iraniana, por força das sanções e deste bloqueio e isolamento a que está submetida, está muito fraca. Encerrar o estreito, significa estrangular ainda mais a capacidade económica do Irão e isso não vai ser nada favorável”, defende.
O investigador levanta ainda dúvidas sobre a logística do bloqueio, já que o Irão divide o Estreio de Ormuz com os Emirados Árabes e com o Omã. “Podem minar o estreito, colocando-lhes grandes entraves, mas isso colocaria o Irão numa posição de isolamento quase completo”, refere à CNN Portugal.