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Monte dos Pipos, Novas Construções, Reguinho d’Água – todas são paragens no percurso do 503

Ou, logo no início, passa por Gólgota, antes de chegar à Venezuela, sem esquecer a Ponte do Carro. Boa viagem.

A linha 503, da STCP – Sociedade Transportes Colectivos do Porto, liga Boavista (Bom Sucesso) a Gatões. É um dos 9 percursos que vai do Porto até Matosinhos.

É uma das linhas maiores, das que têm mais paragens. Não bate o recorde. Há outras linhas da STCP que têm mais paragens, mas as suas 50 paragens são sinónimo de paciência para quem vai lá dentro.

Paciência e curiosidade. Porque a lista de paragens do 503 chamou-nos a atenção recentemente. Por causa dos nomes de algumas.

Logo a terceira paragem, no sentido Boavista-Gatões, é Gólgota. Quem frequente uma das faculdades da zona do Campo Alegre, conhece muito bem esta zona. Há ali uma Rua do Gólgota, mesmo junto à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (e mais abaixo a Casa do Gólgota), e o seu nome terá origem religiosa: Gólgota vem do hebraico Gulgōleṯ, que significa “lugar da caveira” – Jesus Cristo terá sido crucificado nesse local, fora das muralhas de Jerusalém.

Naquela zona no Porto, terão estado estruturas ou instituições religiosas que usavam esse nome; ou realizaram-se procissões, via-sacras ou encenações da Paixão de Cristo que terminavam nessa zona. Mas não há evidências científicas destas teorias.

Pouco depois, passamos por Venezuela. Não pelo país, mas pela paragem que fica mesmo na Rua da Venezuela. É normal haver ruas em Portugal com nomes de outros países.

Após jogarmos no Bessa, mantemos o Foco e seguimos poucos minutos depois para Manuel Pinto Azevedo; a paragem seguinte a essa é Manuel Pinto Azevedo; e depois dessa é Manuel Pinto Azevedo. Sim, há três paragens com o nome deste antigo empresário, político e benemérito portuense. Porque as três – cada uma com um número – ficam na Rua Manuel Pinto Azevedo.

Aliás, até há quatro paragens do 503 nessa rua repleta de empresas (e de carros caros), mas a primeira ficou com a designação de uma rua ali ao lado, a do Engenheiro Ferreira Dias.

Já em Matosinhos: Sete Bicas. Esta é muito conhecida para quem anda de metro. Ainda no século XIX, foi construída naquela zona uma fonte com sete bicas, em homenagem a uma alegada aparição de Nossa Senhora da Hora. O número sete não é um acaso.

Tínhamos passado por Venezuela, agora é o Reino Unido. Mais precisamente o Centro Comercial Londres, que também fica na Senhora da Hora.

Na fase final da viagem, começam a acumular-se os nomes invulgares. Fonte do Cuco será uma referência a uma antiga nascente de água – uma fonte supostamente milagrosa – e o cuco estará relacionado com a Primavera, novos começos, renovação.

O Mundo Novo está à nossa espera, na zona de Guifões. Sem grandes certezas, será uma alusão ao crescimento urbano, à expansão habitacional, ao desenvolvimento daquele local.

A paragem seguinte chama-se Novas Construções. Tem uma explicação semelhante: está associada a projectos habitacionais recentes promovidos pela Câmara Municipal de Matosinhos.

Monte dos Pipos fica numa zona alta, onde noutros tempos haveria oficinas de tanoaria ou de depósitos de pipos, locais de armazenamento ou fabrico de pipos.

A paragem seguinte é Reguinho d’Água. Aqui com uma justificação rapidamente perceptível: ali haveria um pequeno curso de água. Um pequeno rego, um “reguinho”.

Perto do fim da viagem, eis a Ponte do Carro. Havia naquela zona uma ponte medieval sobre o Rio Leça, que unia as freguesias Santa Cruz do Bispo e Guifões. Aliás, a ponte de granito ainda existe, mas está dentro de um parque; o autocarro não passa lá.

Já agora: e os nomes Boavista e Gatões?

Sobre a Boavista, a origem é a Quinta da Boavista, construída no século XVIII na zona da actual Praça da República e que tinha uma localização privilegiada – tinha… boas vistas. Sobretudo para a zona ocidental do Porto.

A origem do nome Gatões é mais complexa. Não há registos, documentos oficiais, mas é possível que esteja relacionada com as distantes invasões bárbaras. Há nomes em Portugal terminados em “ões” que terão origem germânica; sugerem posse ou associação pelo nome que vem antes desse sufixo.

Boa viagem. Talvez num próximo artigo entremos no 508 até ao Cabo do Mundo.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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