Os bombardeiros soviéticos que a Rússia usou em Kiev: mísseis modernos, aviões antigos

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Avião bombardeiro Tupolev Tu-95 ‘Bear’ da Força Aérea da Rússia

O Tupolev Tu-95 é um grande bombardeiro estratégico propulsionado por quatro turbohélices. Está ao serviço desde a década de 1950, ressuscitou na guerra da Ucrânia, e os seus modernos mísseis de cruzeiro Kh-101 poderiam bombardear Lisboa sem sair do espaço aéreo russo.

Moscovo destacou dez bombardeiros estratégicos Tu-95MSM para lançar os mais violentos ataques contra a população civil ucraniana desde o início da guerra.

Estas aeronaves, desenvolvidas pela União Soviética durante a Guerra Fria, descolaram de duas bases russas: seis aeronaves partiram de Olenya, uma instalação militar na península de Kola, perto da Finlândia; as quatro restantes fizeram-no a partir de Engels, a sul de Saratov. As naves que descolaram de Kola, segundo a Finlândia, violaram o espaço aéreo europeu.

O seu objetivo: lançar mísseis de cruzeiro Kh-101 contra alvos ucranianos, conta o El Confidencial.

Cada Tu-95MSM transportava sob as suas asas oito Kh-101, com um alcance de 3.500 km — uma distância muito superior à que existe entre o espaço aéreo russo e Portugal: o extremo nordeste do nosso país está a cerca de 2500 km de Kaliningrado, o ponto mais próximo da fronteira russa.

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Bombardeiro russo Tupolev Tu-95MSM ‘Bear’ com oito mísseis Kh-101 sob as asas

Mísseis modernos, aviões antigos

Estes projéteis, supostamente equipados com sistemas para evitar radares, sistemas anti-interceção e ogivas explosivas de 400 quilogramas — que podem ser convencionais (Kh-101) e termonucleares (Kh-102) — foram detetados a entrar pela região de Kharkiv, sobrevoando Sumy e Poltava, antes de se dirigirem para Kiev.

Segundo a revista de defesa Military Watch Magazine, as defesas ucranianas intercetaram todos os mísseis e 288 drones, embora os restantes tenham danificado 18 edifícios residenciais, quatro complexos industriais e uma linha elétrica na região de Khmelnytskyi. Doze civis morreram nos bombardeamentos do passado fim de semana.

Os Tu-95MSM envolvidos nestas operações são versões atualizadas de um bombardeiro cujo primeiro voo ocorreu em 1952.

Concebido originalmente para ameaçar objetivos nos Estados Unidos e na Europa durante a Guerra Fria, o Tu-95 tem quatro motores turbohélice — que combinam turbinas a gás com hélices — e pás contrarrotativas, que lhe permitem atingir velocidades até 900 km/h, um recorde para um avião de hélice.

As atualizações iniciadas em 2009 incluíram novos motores NK-12MPM, mais potentes e eficientes, e a capacidade de lançar mísseis como o Kh-101 e a sua variante nuclear, o Kh-102.

Da Guerra Fria ao Donbass

Os Tu-95, a que as forças da NATO dão o nome de código de “Bear” (Urso), são vistos com frequência a voar perto da Escócia e do Alasca, próximos do espaço aéreo da Aliança Atlântica — sendo invariavelmente utilizados para testar as capacidades dos caças-interceptores das forças aéreas da NATO, diz Simple Flying.

Ao contrário do que acontece com os míticos bombardeiros B-52 norte-americanos, o Tu-95 nunca transportam armas nucleares em voos de treino, uma vez que isso prejudica a sua prontidão para missões.

Embora o seu perfil de radar seja facilmente detetável e a sua velocidade seja inferior à dos reatores modernos, o Tu-95MSM continua a ser o grande cavalo de batalha nuclear de Moscovo como terceira roda da sua tríade estratégica de ar, mar e terra.

O seu baixo custo operacional e a possibilidade de atacar os seus alvos a partir de distâncias seguras — graças ao alcance extremo destes mísseis, que poderiam bombardear Lisboa sem sair do espaço aéreo russo — mantêm-no operacional apesar da sua antiguidade.

De facto, a Rússia prevê retirá-lo na década de 2040, quando teoricamente o seu novo bombardeiro ‘invisível’ entrará em serviço.

O Tu-95 não é apenas o bombardeiro de hélice mais rápido do mundo, mas também um símbolo da longevidade tecnológica que permaneceu a realizar exercícios de treino e a pôr à prova as defesas dos EUA, Canadá e Europa até 2015, quando realizou o seu primeiro combate real bombardeando posições do Estado Islâmico na Síria após 59 anos de serviço.

Hoje, com 48 unidades em ativo — 12 das quais modernizadas na sua versão Tu-95MSM usada agora na Ucrânia — este avião obsoleto continua a dar luta, embora os analistas questionem a sua capacidade para sair do espaço aéreo russo em missões de combate sem ser abatido por um inimigo.

Passa-se o mesmo com a eficiência dos mísseis que utiliza, cuja falta de eficácia — que teria sido provada neste mesmo fim de semana com o abate dos mísseis segundo Kiev —, elevado custo e carga limitada contrastam com alternativas mais económicas, como mísseis de curto alcance ou drones. Apesar disso, a Rússia planeia aumentar a sua produção para 600 unidades anuais em 2025.

ZAP //

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