“Só um estúpido é que não aceitava”. Catar vai oferecer um 747 a Donald Trump

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Saudi Press Agency / EPA

Trump em Riade, na Arábia Saudita, na sua primeira visita oficial ao estrangeiro, após ter sido eleito presidente dos EUA.

A oferta levanta questões éticas importantes, dado o enorme valor do avião luxuosamente equipado — e a intenção de Trump de assumir a sua propriedade após deixar o cargo.

A administração Trump planeia aceitar um Boeing 747-8 de luxo como doação da família real do Qatar, que será adaptado para servir como Air Force One, o que o tornaria um dos maiores presentes estrangeiros alguma vez recebidos pelo governo dos EUA, segundo vários funcionários americanos com conhecimento do assunto.

O avião deverá ser posteriormente doado à biblioteca presidencial de Donald Trump quando deixar o cargo, disseram dois altos funcionários da Casa Branca, o que, diz o The New York Times, levanta a possibilidade de o presidente norte-americano poder usar o avião mesmo após o fim da sua presidência.

Numa publicação na sua rede social Truth Social, este domingo, após um dia de controvérsia em que até alguns republicanos questionaram em privado a sensatez do plano, Donald Trump confirmou que está inclinado a receber o avião — e sugeriu que os democratas são “perdedores” por questionarem a ética desta decisão.

“O facto do Departamento de Defesa estar a receber um PRESENTE, GRATUITO, de um avião 747 para substituir temporariamente o Air Force One com 40 anos, numa transação muito pública e transparente, incomoda tanto os Democratas Corruptos que eles insistem que paguemos o PREÇO MÁXIMO pelo avião”, escreveu Trump.

“Qualquer um pode fazer isso! Os Democratas são Perdedores de Classe Mundial!!!”, concluiu o presidente norte-americano.

Os democratas e grupos defensores da boa governação defenderam como pouco ético e provavelmente inconstitucional que o Qatar faça esta oferta. “Nada diz ‘America First’ como o Air Force One, oferecido pelo Qatar”, escreveu o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, na rede social X.

Não é apenas um suborno, é uma influência estrangeira de primeira classe com espaço extra para as pernas”, acrescentou Schumer.

Mais do que um meio de transporte, muitas vezes chamado de “Palácio Celeste”, o Air Force One é um símbolo da presidência dos Estados Unidos, sendo usado em visitas oficiais a outros países. É também uma plataforma de comando móvel, que em caso de crise permite manter o governo dos EUA a funcionar — a partir do ar.

Também a Citizens for Responsibility and Ethics in Washington (CREW), uma organização de boa governação, questionou a legalidade da transferência, sublinhando que a Constituição dos Estados Unidos proíbe os funcionários públicos norte-americanos de aceitarem presentes de governos estrangeiros sem a aprovação do Congresso.

Isto parece mesmo um país estrangeiro com o qual o Presidente dos Estados Unidos tem negócios pessoais, que lhe oferece um presente de 400 milhões de dólares, antes de Trump se encontrar com o seu chefe de Estado”, afirmou numa declaração o porta-voz da CREW, Jordan Libowitz.

É difícil ver como uma coincidência que a empresa de Trump acabe de anunciar um novo resort de golfe no Qatar, alegadamente em parceria com uma empresa propriedade do governo do país”, disse Libowitz.

A Organização Trump, conglomerado empresarial de Donald Trump, anunciou em abril que vai começar a desenvolver o seu primeiro projeto imobiliário no Qatar, com a construção de um clube de golfe e moradias na zona costeira de Simaisma, na capital, Doha.

Donald Trump, no entanto, não vê mal nenhum na oferta — pelo contrário, considera que o 747 é um presente para o Departamento de Defesa dos EUA, o que, de alguma forma, deixa de poder ser considerado corrupção.

“Se conseguirmos um 747 como contribuição para o nosso Departamento de Defesa para usar durante alguns anos enquanto constroem os outros, acho que seria um gesto muito simpático“, disse Trump, citado pelo Gizmodo.

“Agora, eu poderia ser uma pessoa estúpida e dizer “oh não, não queremos um avião de graça”. Nós damos coisas de graça, também aceitamos uma. E isso ajuda-nos porque, mais uma vez, estamos a falar de… termos aeronaves com 40 anos”, acrescentou.

Trump manifestou anteriormente frustração com os atrasos na entrega de dois novos Boeing 747-8 para servir de Air Force One atualizados. Durante o seu primeiro mandato, Trump assinou com a construtora aeronáutica norte-americana a entrega dos aviões em 2024.

Um funcionário da Força Aérea dos Estados Unidos anunciou ao Congresso norte-americano na semana passada que a Boeing estima terminar os aviões até 2027.

ZAP //

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